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terça-feira, 20 de março de 2012

1, 2, 3, GRAVA

RTP vendeu o ouro...

Da época de Almerindo para cá, foram-se anéis, dedos e prestígio. Aliás, esse presidente do Conselho de Administração dizia que não via televisão. Pelo descalabro que provocou depois nas Estradas de Portugal, deduzo que também não costuma viajar de carro.


A renovação da RTP e da RDP processa-se de há uns anos a esta parte sob o signo dos números. Basta dizer que, nos seus loucos tempos, Almerindo Marques era administrador para, se o não travassem, substituir dois elementos da Manutenção da RTP-Madeira por dois jornalistas - era ela por ela em termos quantitativos e não estou a contar anedotas.


Lá se explicava pacientemente ao homem que se lhe podia fazer a vontade, mas desde que ele aceitasse ver os jornalistas e demais quadros parados por falta de técnicos que pusessem a estação no ar.
Eram os malucos tempos do "fazer mais com menos" (teoria agora retomada para combater a crise, curioso!) na televisão pública. Cortar, cortar. Poupar, poupar. Mas também gastar, gastar. Vender património, vender.
"Hoje o povo descapitalizado vai vender ouro ao Eloy's. Naquela altura, os administradores do Almerindo recorriam à Re/Max ou coisa parecida." A imagem é de um antigo profissional da RDP-Madeira, estação ultimamente integrada na RTP, como se sabe.
"Venderam, venderam...", continua o meu antigo colega. "Aquilo foi o prédio da 5 de Outubro, que era da RTP, foram os terrenos onde havia emissores... E até quiseram vender outros que não pertenciam à televisão. Na RDP, foi a casa do Quelhas, antiga rádio e ultimamente museu... Foi-se o edifício das Amoreiras... onde hoje por acaso ficam, se não me engano, os escritórios de advogados onde se inclui o Morais Sarmento, ministro com a área da comunicação social, naquela mesma fase..."

Treap-tease na ex-RDP

E aqui na Madeira? "Aqui na Madeira", diz o meu ex-colega, conhecedor profundo da situação, "lá está o edifício da RDP na Tenente-coronel Sarmento, à espera de algum comprador suicida, porque aquilo... ainda por cima em tempo de crise..."
A ironia: "Aquilo o que dava era uma casa de diversão nocturna. Um night clube de cores, música e luzes sensuais. Há espaços óptimos para bares. Cabinas de gravação para privados. Tem o auditório com as melhores condições para o streap-tease. E lá estão os estúdios da onda média e do FM, bem à prova de som, para o caso de aparecerem clientes com tiques doentios, com ataques de sado-masoquismo..."
Tudo para referir o fracasso de projectos levados em frente sem a menor consistência, para mal do erário e dos contribuintes. A construção desse edifício foi antes de Almerindo Marques. Mas o que se fez depois brada aos céus. A mudança darádio para a Levada do Cavalo e o prédio da Sarmento abandonado aos ratos.
Na época almerindeira, era um controlo apertado na aquisição de materiais, recorda o antigo trabalhador da rádio, apoiado por outros ex-colegas sentados em grupo à volta da mesa do café. Comprava-se disquetes para adiantar serviço e logo Lisboa barafustava. Que tinham lá para mandar. Mandavam então, quando mandavam, e depois verificava-de que o custo do transporte dava para o dobro de disquetes compradas cá. Então, voltava-se ao processo inicial.
O mesmo acontecia com a picuinhice das pilhas. Lisboa intervinha, para controlar custos e controlar custos mais uma vez. E depois a estação pública vinha pagar mais do dobro do que no sistema tradicional.
"Um dia, para não suscitar as iras dos homens de mão de Almerindo", conta o meu antigo colega, hoje fora de acção, "um técnico resolveu comprar pilhas muito baratas, aproveitando o que julgou serem pilhas alcalinas de boa qualidade e baixo preço. Quando foi para o serviço, as pilhas não chegaram para meia gravação. Afinal, eram pilhas alkline..."
Tudo à conta da fachada poupadora de uma administração cheia de piadas que um dia tenciono contar.
Quanto à situação actul da RDP-M, os tempos do 27 da Rua dos Netos foram remetidos para um cantinho especial da pré-história da rádio na Madeira. Até a fase Tenente-coronel Sarmento se esfumou já. Nas instalações actuais, dentro do edifício da RTP-M, pontuam poucos sobreviventes da Rua dos Netos. Que me recorde, ainda lá estão a Daniela Maria, a Marta Cília, o Zé Manel Cabral, o Paulo Abreu, o Gil Romero, a Vera Nina... à espera da reforma. Os outros aproveitaram as aberturas da casa para dispensar gente e meteram a pré-reforma. Todos infelizmente sem saudades de uma rádio que foi grande e deve continuar a sê-lo. Os últimos tempos varreram o sentimento, aquela irresistível adrenalina hertziana de outros tempos. Compete às novas gerações recuperaram "a rádio da minha rua" do Juvenal Xavier, Jorge Reis, Rogério Abreu, José Manuel Sampaio, Maria João Coimbra, Leonel de Freitas, Amadeu Gouveia, Luís Augusto, Jorge Ventura, Rui Fino, Ivo Caldeira, Berta Helena, Roquelino Ornelas, e ainda do Abel Tiago, José Manuel Pires, do Maurício, Tristão, João José Barros, Rui Garcês, Carlos Melim... Longa lista de nomes cada qual com o seu contributo e o seu carisma na história da rádio madeirense, a quem, na qualidade de antigo colega e eterno amigo, envio daqui um saudoso abraço.

Vista desde a torre do edifício 27 da Rua dos Netos, antiga RDP, que registei com uma Kodac aí de uns 20 escudos, há mais de 30 anos.


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