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sábado, 24 de março de 2012

Politicando

O SONHO DE TER UMA TROPA REPRESSIVA PESSOAL DE ELITE, COMO SADDAM




O chefe do laranjal madeirense abandonou-se hoje aos devaneios antigos de ter à sua volta uma polícia de choque para atiçar e lançar às pernas dos adversários. Com a descontracção de quem acumula dois vencimentos ou apanha um avião para novas férias em Bruxelas pagas pelo povo esfomeado e desempregado, sua excelência o líder do PSD-M encheu arrogantemente o peito de prosápia num elogio ao ministro da Administração Interna. Traduzindo por miúdo as suas deambulações em pleno congresso nacional, o que ele quis dizer sobre a violência em dia de greve geral foi qualquer coisa do género: Muito bem, sr. ministro, mas aquelas bastonadas não ensanguentaram suficientemente o Chiado e arredores. 
O ministro Miguel Macedo por azar não encontrou um buraco onde se esconder - ou ninguém viu televisão neste sábado laranja dedicado ao folclore lusitano?
Tudo previsível no discurso provinciano, mas sempre hilariante. Felicitar o ministro pela brutalidade policial "em defesa da democracia"! Que democráticas varadas nas cabeças dos grevistas "anti-democratas" desobedientes, às mãos dos polícias que tentavam difundir a fé e o espírito democrático por aquelas ruas alfacinhas. Como no antigamente. Pelo menos, reconheçamos, o chefe regional foi coerente: não disse nada desafinado com o que escrevia nos seus tempos do jornal fascista "Voz da Madeira".
Actualmente, com dois seguranças atrás, o homem parece que tem o rei na barriga, então com um pelotão de esbirros armados até aos dentes a protegê-lo como a elite de Saddam ganharia finalmente coragem para dizer cara a cara o que diz pelas costas dos que não lhe receiam os perdigotos, salvo seja.
Não é tempo de individualismos - afirmou com ar de quem estivesse a falar sério, arrancando umas mal-amanhadas palmas a meia dúzia de congressistas e sonoras gargalhadas a quem estivesse aqui na Madeira diante da televisão. Um por todos, todos por um - chegou mesmo a dizer o político mais individualista desde o século XIX!
Assim falou quem se auto-denomina de Único Importante.

Ao longo da interminável estopada oratória, que deixou o próprio Passos Coelho a cabecear de sono, lá se repetiu o homem nas frases feitas. A luta contra o colectivismo, mas ao mesmo tempo contra o liberalismo político e económico. Acorrer às necessidades financeiras do Estado para um lado e acorrer ao mesmo tempo para outro lado às necessidades da pessoa humana.
E contra a massificação da sociedade às mãos de comunas e liberais. Agravar impostos e simultaneamente aumentar o poder de compra das pessoas e viabilizar as PME.
Uma salgalhada que deixou toda a gente a fazer contas de cabeça: como alcançar ao mesmo tempo um determinado objectivo e o seu contrário?
Claro que não se esqueceu de reformular ataques à estupidificação operada pela comunicação social e aos Goebbels especializados em distrair a populaça. E cuidado - alertou - com o perigoso pós-modernismo, esse fenómeno que se instala no País travestido de relativismo, numa negação subvertida do que é mas também não é, conforme interessa e não interessa aos interesses dominantes.
Leu demais nos últimos dias para "empinar" umas ideias de efeito e o resultado foi o que se televiu.

Falou também contra o sistema, que a seu ver desembocou numa situação de interesses instalados há longos 30 anos. Seria bom que Portugal, nesse capítulo, aprendesse com a Madeira o que é renovar - acrescento eu.
Também não fica nada satisfeito "rei das Angústias", e disse-o lá em Lisboa, quando repara que Portugal sobrevive sob administração estrangeira. Mais um capítulo em que a capital devia beber a lição da Madeira. O governo regional, ao contrário do central, em lugar de se deixar administrar, entrega o trabalho pesado aos de fora - como por exemplo pô-los a tratar dos dinheiros para Ventura Garcês e os barões do cimento locais não sujarem as mãos.

Enfim, o conhecido gabarolas das Angústias puxou dos galões para solenemente vincar o seu excelente trabalho enquanto presidente do governo, ao pegar numa região com 40% do PIB per capita da UE para poder exibi-la hoje aos olhos de todos com 100% do PIB da UE.
Vinha a talho de foice, mas o homem não disse que pegou numa terra com 0 (zero) de dívida e hoje, depois de uma evolução espectacular operada pelo seu gabinete, pode apresentá-la como a região com o calote mais estrondoso da Europa.
Agora, concedamos, o homem pelo menos uma verdade disse aos congressistas: se tem sido eleito sucessivamente é porque o povo aplaude a sua governação. Somos testemunhas: o povo tem votado e portanto é bem feito que continue com mais do mesmo por muitos e bons anos.
Boa noite e bom desemprego a todos.


2 comentários:

jorge figueira disse...

São tempos de mentira total.Uma mentira repetida até a exaustão transforma-se em verdade.O drama é que desta vez as consequências vão chegar às barrigas. Aí, meu amigo, já ninguém ouve nada e a linguagem oca do poder deixa de fazer sentido. Temo,sinceramente, esse momento.

Luís Calisto disse...

Já não sei, para ser sincero, caro Jorge Figueira, se temo esse momento ou se acho que sem barulho nada mudará.