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terça-feira, 24 de abril de 2012

Madeira ao Vivo

'GUERRA SANTA' CONTRA LISBOA PARA OFUSCAR INVESTIGAÇÕES

Jardim retoma nesta terça-feira o espantalho do separatismo e lembra ameaçadoramente o tenebroso tempo das bombas

Bomba no emissor do Monte (EN), na madrugada de sexta-feira, 22 de Agosto de 1975. O furriel Ricardo, de camuflado, é o actual director da actual PJ-Funchal. (in 'Achas na Autonomia')

Apesar de previsível, a táctica do chefe Jardim para confundir o noticiário no caso das investigações às contas da Madeira surtiu algum efeito. Esta segunda-feira, ao fim da tarde, os próprios meios de comunicação nacional haviam passado para o alto das suas páginas a contra-informação engendrada na Quinta das Angústias com o propósito de afastar as atenções do assunto que mais interessa no momento - a suspeita de crime no processo da dívida regional escondida.

Sem um governo socialista em Lisboa a quem usar como alvo no foguetório de artifício, o monarca ilhéu aplicou a tradicional argumentação do contra-ataque, devolvendo aos 'invasores' a prática de ilegalidades. Os rodapés das televisões nacionais e os 'on line' dos jornais passaram então a fustigar os respectivos consumidores com os delírios saídos da Quinta das Angústias. Será que a GNR procedeu às buscas com o necessário mandado de busca? Não haverá nas diligências encetadas no prédio do Campo da Barca procedimentos que indiciem o crime de sequestro? O melhor é ordenar um inquérito através da vice-presidência do governo regional, que tutela os serviços actualmente instalados no dito edifício. 'E o resto é conversa.'

"O João faz anos": JM de hoje com 'toque a reunir' para os flamistas

O fim de tarde e a noite de segunda-feira, do ponto de vista informativo, giraram  pois em torno destas 'grandiosas' contra-diligências desencadeadas pelo chefe da Madeira. E o plano de emergência prossegue nesta terça-feira com subida de tom na tão batida música, pelos vistos ainda maviosa, composta por sua excelência o rei insular.
Dão o mote os bonecos do Jornal da Madeira, que por acaso já vinham fazendo guerra aos dirigentes do PP-M 'nascidos no Continente'. Em mais uma das 'charges' elaboradas pelo punho do próprio chefe do governo, esta mais apimentada do que as habituais sensaborias da 2.ª página, lança-se um aviso às "forças de ocupação colonial" que procedem às investigações no governo madeirense. O texto é elucidativo e se, por um lado, se destina aos investigadores, por outro visa a convocação dos hipotéticos espíritos separatistas que subsistam por aí. 
Para melhor se perceber, reproduzimos o número de hoje da famosa, vexatória e ordinária secção usada pelo chefe nas suas tentativas diárias para espezinhar política e socialmente os seus adversários. Porque ali não há ideia de fazer humor, mas transmitir recados e enxovalhar adversários do regime.


"O João faz anos" foi uma frase que correu por toda a Madeira numa semana de especial tensão política e movimentação independentista durante o PREC. Acusada de ligações ao Partido Comunista, a Junta de Planeamento da Madeira demitiu-se em princípios de Agosto de 1975, ficando apenas no activo Carlos Azeredo, presidente do órgão, até à solução seguinte. O terror flamista não dava tréguas, à época, na deflagração de bombas e fogo posto. Numa terça-feira de Agosto, sem se perceber a que propósito nem com que origem, as pessoas interrogavam-se pelas ruas, umas às outras: "Já comprou presente? Sexta-feira o João faz anos."

Polícia e tropa labutavam com afinco...


...Mas os atentados sucediam-se, como
o que destruiu o rés-do-chão
da Emissora Nacional (RDP), no 27
da Rua dos Netos. (in 'Achas na Autonomia')

O mistério adensou-se com o passar das horas e dos dias. Havia expectativa virada para o 'dia de anos' do tal 'João'. O MFA, que já se manifestara disposto a tentar eliminar a corrente contra-revolucionária dos separatistas, desencadeou com a PSP, sexta-feira ao princípio da noite, a 'Operação Parabéns', juntando-se assim à 'festa de anos' do 'João'. Mais de 200 homens da tropa e da polícia montaram apertado controlo de peões e viaturas nos pontos estratégicos do Funchal. Porém, às três menos um quarto da madrugada, já sábado, o brutal estampido abalou a cidade: um petardo feito de 200 gramas de dinamite destruiu parte das instalações da Emissora Nacional (hoje RDP), à Rua dos Netos. 

FAMA (ou o que resta da FLAMA) quer acção

É este 'João faz anos' o tema verdadeiramente bombástico dos 'bonecos' do JM de hoje, com texto de Jardim apesar da atribuição da sua autoria ao 'Jornal da Madeira'. Sem dúvida uma tentativa de intimidação mais concreta e material do que o costume.
Já ontem, segunda, o Fórum Autonomia da Madeira FAMA - percebe-se a intenção da sigla - saltou a terreiro com a sua habitual participação em todos os episódios que cheirem a guerra Funchal-Lisboa. Um comunicado 'famista' atribui a Lisboa culpas pela péssima  situação financeira da Região. "A Madeira perderá mil milhões de euros até final desta década", alarma o texto, que termina com um apelo: "Os Madeirenses não podem ficar calados face a esta asfixia que quer matar a Autonomia. Os Autonomistas têm de agir»!
Pelo FAMA tem dado a cara nos últimos tempos, a solo, o ex-deputado social-democrata e antigo dirigente da ala política da FLAMA Gabriel Drumond. Mas dá-se pela incontornável presença do chefe Jardim no papel de associado n.º 1 da organização, com direito a escrever comunicados em nome do divertido 'movimento'.


JM cria mau ambiente a jornalistas continentais que vêm "agitar"


O 'Jornal da Madeira' publica hoje um artigo que, apesar de assinado por um jornalista da casa, traduz textualmente o pensamento do patrão do periódico, Alberto João Jardim - patrão com dinheiros públicos, como se sabe. Com chamada na 1.ª página - uma das várias em forma de contra-ataque às investigações em curso no Funchal -, o jornal denuncia hoje o que entende estar "na forja": uma "campanha contra a Madeira e os madeirenses" através do envio ao Funchal de várias equipas televisivas continentais.
Tratar-se-ia de uma "campanha" idêntica à de Setembro e Outubro de 2011, quando, antes das eleições regionais, estiveram cá jornalistas de vários órgãos continentais que, diz o JM, "propagandearam até à exaustão a questão da dívida da Madeira, ignorando, porventura propositadamente, que foi o próprio Alberto João Jardim a pedir o Plano de Ajustamento Financeiro".
"Mas a campanha das televisões nacionais", prossegue o jornal da diocese-PSD-governo, "faz-se sentir em outras situações: por exemplo, no fim-de-ano e no Carnaval madeirenses elogiaram-se as iniciativas mas destacaram-se os gastos, esquecendo o retorno financeiro". Mais: "Em contrapartida, em relação a eventos semelhantes noutras partes do país, nem uma palavra em relação aos gastos. Só elogios. E poder-se ia continuar com mais exemplos." É o JM a dizer.

Ainda: "Para não ir mais além, veja-se o que se passou com a Festa da Flor. Toda a gente achou bonita, mas as televisões nacionais fizeram questão de destacar quanto custou. E só por uma vez lembraram quanto é que trouxe de retorno (muito superior ao gasto)."
Portanto, fica lançado o aviso a que se vê "forçado" o JM, dado o impactante conteúdo constante da sua cacha desta terça-feira: "Está prevista a vinda de equipas especiais, compostas por jornalistas e operadores de Portugal Continental, dos vários canais nacionais de televisão, com especial ênfase na RTP, o canal do Estado, mais interessado em propaganda e agitação contra a Madeira."
Como dissemos, este artigo vem assinado por um jornalista do JM, o que poupou Jardim a repetir as iniciais 'AB' dos seus usuais artigalhões (iniciais que arriscámos há tempos significarem 'Alberto Bokassa').
Além do inquérito à GNR para se apurar a legitimidade da investigação no ex-Equipamento Social e do estudo para ver se há indícios de "sequestro" no mesmo caso; além da santa evocação da época das bombas; eis, portanto, o jornal oficioso a lançar o alarme à população: vêm aí as inimigas televisões 'cubanas' numa campanha orquestrada para desestabilizar e agitar a Madeira.


O discurso pode impressionar quem nos lê de longe e não conhece suficientemente a idiossincrasia que o rei das Angústias impingiu a esta geração - mas não bule absolutamente nada o espírito de quem lida com estas cansadas anedotas e larachas há mais de 30 anos. Só maça.

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