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sábado, 28 de abril de 2012

Política das Angústias/SÁBADO

Enquanto o regime laranja desaba com estrondo

OPOSIÇÃO ORGANIZA-SE PARA O PÓS-JARDINISMO



Carlos Pereira, mentor
das jornadas do PS,
alargadas à oposição e
a independentes.
Victor Freitas fará uma
intervenção, como
líder do PS-M.



A Madeira vem de duas fases particularmente agitadas do ponto de vista político: primeiramente, o inesperado e conturbado processo das candidaturas à liderança do PSD-M, com vários avanços e recuos; depois, na semana que chega ao fim, a operação 'Cuba Livre' que o abatido grupo da maioria recebeu com preocupante desassossego.
Desenvolvimentos espantosos atropelam-se na vertigem deste estrondoso desabar do regime jardinista. Nesta sexta-feira, enquanto o DCIAP reunia os derradeiros elementos para posteriores conclusões das buscas realizadas às escabrosas contas da Madeira, Miguel Albuquerque e João Cunha e Silva, que Jardim sempre tratou de manter em campos opostos, dentro do seu partido e na vida pública, apareciam juntos e com largos sorrisos num acto oficial ocorrido no Campo da Barca.
As hostes miguelistas municipais desconhecem os contornos da adesão do vice-presidente ao programa de visita aos jardins recuperados, depois de destruídos no 20 de Fevereiro de 2010. Como ontem escrevemos aqui na 'Fénix' a seguir ao surpeendente encontro, das duas, uma: ou Jardim soube antecipadamente da decisão de Cunha e Silva, e deixou seguir, a ver se consegue aplacar os ímpetos de Albuquerque na corrida à liderança do PSD; ou Cunha e Silva decidiu-se unilateralmente, sem consulta ao presidente, e Jardim perdeu definitivamente o controlo da situação a um ponto mais grave do que à vista desarmada se percebia.

Inesperado encontro que deve ter deixado Jardim pasmado... se é que não foi ele a querer arrefecer Miguel Albuquerque.

Soubesse ou não soubesse previamente do reencontro dos delfins desavindos há uns 15 anos, aquele que um dia se intitulou de 'Único Importante' no PSD resvala para o fim da linha lançado a velocidade perigosa. Se já não tinha porta por onde escapar, agora não lhe resta se não esperar pelo 'estampanço' final, e seja o que Deus quiser.


'Presidente' não é carreira, é fase da carreira


O maniqueísta chefe das Angústias - ele o bom, todos os outros os maus - sempre achou que, no seu caso, o lugar de 'presidente' é sinónimo de carreira. Ora, qualquer mandato de presidente consiste simplesmente numa 'fase da carreira'. Há carreira política, não há carreira de presidente ou de deputado ou de autarca. Estes cargos são passageiros. Ao ocupá-los, ninguém pode aspirar à eternidade. Embora mais tarde do que o normal, aí está, para o comprovar, o caos na Rua dos Netos resultante da teimosia do chefe em se agarrar à cadeira como craca ao rochedo.

O lugar de presidente é passageiro, mesmo para os 'Únicos'.


Os quadros do PSD-M, incluindo alguns malacozoários caninamente fiéis a Jardim anos e anos, comportam-se hoje como se o líder já lá não estivesse. Tanto os que abandonaram o navio como aqueles que ocupam ainda postos-chave criticam abertamente, pelas ruas e pelos cafés, o autismo, o 'lapismo' e o desconhecimento da Madeira actual que notam no chefe - quase ex-chefe. Claro que Jardim, quando cair na realidade, estrebuchará desesperadamente, agarrando-se com as últimas forças ao poder laranja que mantém na comissão política desde 1976. É normal nos chefões de longa duração. Mas se a ilusão o faz contar com apoios que o amparem na hora da queda, engana-se redondamente. Já ninguém se deixa embalar pelos seus repetitivos retornelos, contraditórios da manhã para a tarde. Nem sequer o seu antigo suporte mais sólido, o secretariado que detém a máquina do partido, lhe apara tanta teimosia, tanta rejeição dos novos ventos. Não é de agora, mas o próprio Jaime Ramos não baixa a voz para, nos centros funchalenses de cavaqueira, esclarecer que Jardim não manda nada, quem manda é ele, Jaime.


Oposição com papel redentor


Do outro lado da política madeirense, a oposição apresenta-se finalmente com ares de querer organizar-se para cumprir a sua missão principal, que é transversal a todos os partidos: 'ajudar' a derrubar o resto do jardinismo e construir soluções para uma redenção da Madeira em todos os campos. Missão que aliás se apresenta como tarefa hercúlea, na crítica conjuntura económico-financeira do presente e ante as perspectivas ante um futuro de incertezas, inevitavelmente doloroso. Sobre os ombros da oposição poderá cair o delicado trabalho de enfrentar as consequências de um passado louco de 30 anos perpetrado por outrem. Não há milagres, muito menos financeiros: 'sangue, suor e lágrimas', eis a receita que terá de aviar a inocente descendência dos madeirenses que maioritariamente insistiram em se alimentar de um regime da crápula, suicida, irresponsável e com um chefe ultra-narcisista aos comandos.

A pensar no que poderá ter de enfrentar um dia, caso vença nas urnas o PSD - este ou o PSD pós-Jardim - a oposição senta-se conjuntamente, neste fim-de-semana, à mesa do Hotel CS Madeira, para debater a tremenda herança do passado laranja e as hipóteses de futuro. O interessante acontecimento ocorre sob a égide do Partido Socialista. O líder do grupo parlamentar PS, Carlos Pereira, indiscutivelmente uma das esperanças no campo económico-financeiro para ajudar a proteger os madeirenses das consequências do passado, entendeu alargar o debate aos restantes partidos da oposição. Endereçou convites. A receptividade comprovou grande interesse em todos os segmentos partidários. Apenas o PCP fica fora dos painéis de discussão. Leonel Nunes explicou-nos: "É tradição o Partido Comunista comparecer em todos os congressos para os quais é convidado. Mas ir a jornadas parlamentares de outro partido, não estamos a ver como muito lógico."


Alguns já estão na História, doa a quem doer



A representar o PTP estará o seu líder, José Manuel Coelho. E é justo recordar o papel que tem desempenhado na política regional destes últimos anos, desde a sua participação nas primeiras lutas do PND.
O líder do PTP.


Coelho e mais dirigentes do Partido da Nova Democracia ficam para a História política da Madeira como destemidos artilheiros de um dos carros de combate mais eficazes na missão de assaltar e destruir a fortaleza laranja, impenetrável durante 36 anos. Pode-se discutir processos de luta, embora nos pareça falsa questão. Mesmo nas acções mais espectaculares ou propositadamente chocantes, eles não fizeram pior do que Jardim fez durante 38 anos. A verdade é que foram eles a precipitar a desmistificação do 'grande líder', e para isso profanaram com risco e mazelas físicas o 'chão sagrado' das cerimónias majestosas do regime, as inaugurações eleiçoeiras, as sessões hipocritamente democráticas num parlamento inexistente. 
É indiscutível.
Sem esquecer, obviamente, centenas ou milhares de políticos - e não apenas - que ao longo destes 30 anos deram o seu melhor, prejudicando-se a si e às respectivas famílias, numa luta inglória e titânica por uma democracia que continua por chegar. Em tempos particularmente difíceis e perigosos, com um regime insular nos píncaros do poderio absoluto e ditatorial, eles desbravaram caminhos que ajudam os políticos de hoje a intensificar a luta com boas perspectivas de vitória.

A inteligente, sagaz e corrosiva deputada Rubina Sequeira representa o Partido da Nova Democracia.

O PND estará representado nestas jornadas pela deputada Rubina Sequeira, outra prova bem viva de que os madeirenses competentes não começaram nem acabarão com o jardinismo. Bem pelo contrário, o tempo é de liquidar sem dó nem piedade o culto da mediocridade que mantém sequestradas as inteligências e as dignidades desta terra. Quantas gerações perdidas, ostracizadas pelo ciúme da elite laranja, rasca e banal, que havia de cair em sorte a madeirenses que haviam já sofrido vários anos de salazarismo!


Novo sacrifício por um eleitorado que nada merece


Roberto Almada estará presente pelo Bloco. Outra vítima do eleitorado interesseiro e calculista responsável pelo estado a que chegou a Madeira. Rui Almeida representa o Partido pelos Animais e pela Natureza. Roberto Vieira, o MPT. Teófilo Cunha estará nas jornadas pelo PP, actualmente o maior partido da oposição. Todos à mesma mesa, cada qual com a sua idiossincrasia partidária, mas, supõe-se, todos dispostos a considerar o interesse da Madeira como objectivo primordial dos próximos anos - eis o novo sacrifício que se pede a partidos tão incompreendidos e maltratados às unhas de um povo 'drogado' pelos fumos da propaganda tribal. O importante é descalçar a bota que outros calçaram. Só nos últimos 10 anos, a Madeira acumulou uma dívida que ascende a 120% do seu PIB, verba astronómica a que se chegou à custa de financiamentos loucos. Um descalabro diabólico, uma verdadeira proeza que não está ao alcance de qualquer estoira-vergas, por mais 'desterradeiro' que seja.

Roberto Almada, que
muito trabalhou para 
um eleitorado oportunista.
Grato para os organizadores das jornadas e para o futuro da Região é o interesse de muitos independentes, figuras profissionalmente bem conceituadas, em participar nos trabalhos deste fim-de-semana.
Os temas são da mais elevada importância para o momento que se vive de tripla crise na Madeira - a internacional, a nacional e a regional decorrente da dívida que o governo criminosamente ocultou debaixo do tapete. Eis esses temas: 'As lacunas na democracia da Madeira consolidaram o desastre financeiro?'; 'As consequências do Programa de Ajustamento Económico e Financeiro no bem-estar dos madeirenses e dos porto-santenses'; 'Os efeitos da governação de Jardim na Autonomia da Madeira'.
Efeitos trágicos, diga-se já, porque a governação liquidou sem remorsos a autonomia. Nem sequer nos restou a autonomia administrativa que os nossos antepassados, por elevado preço, conquistaram em finais do século XIX.

Estas jornadas de reflexão e debate, onde se encontrarão os partidos oposicionistas à mesma mesa, não significam qualquer aliança em embrião. Mas prefiguram o entendimento de que há um ponto de partida comum, tendo em vista o caminho para chegar à transformação radical de que a Madeira precisa, não só materialmente mas no campo da mentalidade.





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