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domingo, 17 de junho de 2012

Futebol



NA HORA DA VERDADE NÃO CHEGA SER HUMANO




Ronaldo queixa-se da pressão e diz que errar é humano. Mas os melhores, os génios estão acima disso. De contrário, não são génios, são futebolistas vulgares.




Paulo Bento, outros protagonistas da bola desportivamente correctos e o próprio Ronaldo afiançam estranhar as críticas à inoperância do avançado madeirense, com toda a justiça considerado a vedeta da Selecção de Portugal. Ah estranham a pressão e as críticas? Ora essa! Que ideia mais estranha!




Chegou uma das horas da verdade já previstas para o Euro de Futebol. Que tanto pode ser uma das várias horas da verdade por aparecer ainda como a última deste campeonato.
Pelo que se tem ouvido por essas televisões e lido por esse jornais além, quase se fica com a sensação de que o povo do futebol é o culpado pela prestação periclitante dos '11 por todos'.
Numa frase, os cavalheiros que andam lá dentro do fenómeno entendem que os jogadores vivem dentro de uma redoma de cristal ou num olimpo inacessível aos vulgares terráqueos deste País, cujo papel se resumiria ao seguinte: adorar os deuses que vestem a camisola das quinas quando eles fazem o diabo dentro do campo, encantando com futebol filigranado e metendo bolas na baliza do adversário; e calar-se bem calados para não 'fazer pressão' em cima dos rapazes quando eles jogam mal que se fartam e falham escandalosamente as raras oportunidades à frente da baliza.


De besta para baixo...

Quando jogávamos futebol, a bancada dos Barreiros chamava-nos de besta para baixo quando a bola não entrava. A fiel alma verde-rubra sofria e vibrava com o trabalho da equipa e desabafava na hora do insucesso.
Se nos chamavam de besta para cima a nós, já no caso de 'Por-tu-gal, Por-tu-gal' o máximo que se pode referir é uma azarada 'falta de eficácia' do avançado que falhou.
Bom, há exagero num caso e noutro. Nem besta nem o eufemismo imbecil da ineficácia. o homem falhou um golo, esteve mal, não está a render, pois a continuar assim deve ser substituído. 

Estranhamos - aqui sim - que o trabalho de Ronaldo, a quem desejamos todos os títulos de melhor do mundo, mas que também não desperdice o trabalho dos colegas que arquitectam jogadas na Selecção para lhe pôr o golo no ponto de mira, estranhamos que o trabalho do nosso conterrâneo tenha de ser imune às críticas.
Falta dizerem que fazem um favor ao representar a Selecção...

Que andam a exercer pressão sobre o rapaz, que exigem muito dele... Mas, caramba, então não tinha de ser assim? Os adeptos funcionam desse modo exigente em todos os países. Os exemplos de jogadores e treinadores criticados são aos pontapés.


Errar não é sobre-humano

'Errar é humano' - diz Paulo Bento, para deitar água na fervura, secundado pelo próprio Ronaldo, que costuma balbuciar 'errar é próprio do homem, mas a vida não acaba aqui, vamos levantar a cabeça e andar em frente'.
'Errar é humano', pois é, Ronaldo. Mas aos melhores do mundo não chega serem humanos. Os deuses do tal olimpo do futebol são sobre-humanos. Não podem falhar na chamada hora da verdade. Se falha como qualquer humano, então é igual aos outros, por que diacho exigirá que o adulem como 'o melhor do mundo'?
Ser sobre-humano aí no mundo do futebol, essa é a meta que deve impor-se a si próprio.
Tenha paciência, mas o Messi é sobre-humano. Aquilo que ele faz mais ninguém consegue fazer. Como aconteceu com Pelé, Maradona, Zidane, Eusébio. Eles foram deuses da bola, únicos nas suas características, eles foram sobre-humanos. Voavam sobre o campo como o super-homem, a fazer o bem por toda a parte. Falharam golos, mas chegaram a tempo de se redimir com juros.
Cristiano Ronaldo já deu bastas provas das suas condições para ser dos melhores, já mostrou características de sobre-humano. É só rever os números de golos marcados em campeonatos difíceis como o inglês e o espanhol, é só reapreciar golos de calcanhar e de distâncias e posições impossíveis.
Então que há no presente Euro para reclamar? Nada de novo. O Ronaldo jamais acertou a exibição e a pontaria nos jogos da Selecção. Ao contrário dos valores equilibrados no Manchester e no Real Madrid, no tocante a jogadores, na Selecção o Ronaldo paira nos ares da fama e do proveito a grande distância dos outros internacionais.
Então, às tantas parece uma maçada vestir a camisola das quinas.


Sem humildade não há sucesso

Aquele enfado para escolher o campo no jogo com a Dinamarca, mal olhando e  cumprimentando com sobranceria o capitão adversário e a equipa de arbitragem - quando devia mostrar a cortesia do país que representa com a braçadeira de capitão. A cabeça baixa durante o hino, ocasião hoje aproveitada para mobilizar os adeptos. E depois... Bom, depois foi o descalabro das oportunidades perdidas (outra vez) quando isolado, só com o guarda-redes pela frente.
Qualidades de sobre-humano, tem-nas o Ronaldo. Mas falta-lhe uma que é decisiva no caminho do sucesso: a humildade.
'O melhor' não precisa de andar obcecado a dizer por todo o lado que é melhor do que o Messi. Os outros que o digam. Um sobredotado não deve responder às provocações das claques contrárias. Um sobre-humano pode brilhar em várias vertentes e falhar na hora da verdade por causa da arrogância.
Ronaldo começou por reagir impecavelmente às provocações. Não é fácil ser assobiado em todos os estádios do mundo como lhe acontece desde a expulsão de Wayne Rooney, naquele mundial. Mas, até certa altura, aguentou-se heroicamente, fazendo calar os detractores com os seus excelentes golos. Ultimamente...

Neste domingo, Portugal precisa de Ronaldo. Mas do Ronaldo sobre-humano, que marca golos do outro mundo e cria lances geniais para proporcionar oportunidades aos companheiros de equipa.
Se acertar, festejaremos o regresso à normalidade, à condição de rei do olimpo da bola. Se falhar por displicência e por falta de humildade, será mais uns metros de descida à Terra, à vulgaridade entre os demais terráqueos.

É a vida.

Força e mais força para esta 'final' holandesa

Se o confronto com a Holanda correr mal, não venham falar de 'pressão'. Ouvirão das boas, era o que faltava obrigarem-nos a ficar calados.
Mas... claro que esperamos saltar da cadeira esta tarde. Para festejar a vitória e a continuidade na importante prova. Se possível, com uma exibição normal de Ronaldo, à Ronaldo, e com golos do nosso conterrâneo de Santo António.







2 comentários:

Rocha disse...

De tudo aquilo que tenho lido sobre este tema, este talvez seja o artigo que melhor espelha o estado actual do Ronaldo, sem o caracteristico bota-abaixo dos anti ou do lambe-botismo dos incondicionais pró.

Que não hajam duvidas da enorme qualidade do Cristiano, e do mérito com que atingiu o topo do futebol mundial.

Mas na minha humilde opinião o problema do Ronaldo não é a pressão, nem os outros, o problema dele é ele próprio e a sua obsessão de querer ser o melhor do mundo.

A sua reacção após o golo do Varela é demonstrativa daquilo que o Ronaldo é para a equipa neste momento, um corpo estranho, tudo menos o capitão, o agregador, o impulsionador. O que é pena, pois Portugal precisa e muito do Ronaldo para ter sucesso.

Espero que este jogo contra a Holanda seja o regresso do grande Ronaldo e o inicio de muitas alegrias neste europeu.

Luís Calisto disse...

Completamente de acordo. E faço os mesmo votos, com todas as forças.