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quinta-feira, 4 de abril de 2013

OPINIÃO




E SAI MAIS UM PROCESSO KAFKIANO


EMANUEL BENTO


Há muitos anos, mesmo muitos, ainda tinha eu cabelo, um homem do teatro madeirense contou-me, numa mesa do Café Concerto (no Jardim Municipal) que era preciso desdramatizar Kafka, explicando as razões por que deveríamos rir sempre que o lêssemos. Na altura olhei-o com alguma estupefacção porque sempre me custara ler e digerir a obra do atormentado judeu, por a achar demasiado sofrida e angustiante, mesmo assustadora de tanto expor o absurdo da existência e da pequenez humana perante a irracionalidade da sociedade, que começa exactamente na família. Ainda adolescente havia, algumas vezes, iniciado a leitura da Metamorfose mas sempre sem conseguir acabá-la, o que só fiz uns anos mais tarde, e sem conseguir rir.
Dos vários livros que dele li, obviamente que “Der Prozess” ocupa lugar de destaque. A ideia de sermos acusados e julgados sem sabermos qual a causa do nosso suposto crime não é de todo impossível, pelo menos fora do espectro judicial, já que, no nosso dia-a-dia, creio bem que muitas vezes muitos de nós já fomos, por familiares, amigos, colegas de profissão, desconhecidos, acusados e julgados em sabermos bem as razões destes processos. Basicamente o mecanismo é este: insinua-se, acusa-se e julga-se. Bastam, pois, três etapas para que a suspeição sem razão passe a verdade de facto, pelo menos para alguns.
Tudo isto até agora escrevi, para dizer que continuo sem conseguir rir do absurdo que é Alberto João Jardim ameaçar com mais um kafkiano processo o Diário de Notícias, na senda de ameaças a tudo e a todos que dele discordem ou, simplesmente, não sigam obedientes no carreiro. O que na verdade sinto é pena por ser conterrâneo de um povo que se deixou manipular durante trinta e tal anos por este tipo de ameaças e parvoíces, ainda que até perceba as razões e limitações estruturais subjacentes a esta sujeição. Mas das elites da treta que foram cúmplices pena já não tenho, sinto apenas um orgulhoso desprezo…    

1 comentário:

Anónimo disse...


O pasquim mais uma vez publicou um texto sem assinatura do Mercenário...e não há provas que "a manipulação" seja da sua autoria...O Diário foi ingénuo. Não dêem trunfos...