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sexta-feira, 5 de abril de 2013

POLÍTICA DAS ANGÚSTIAS / SÁBADO



COSTA NEVES PREGOU COM O PROTOCOLO 
NO ORGULHO DE JARDIM



O poder actual devia coerentemente comemorar o 2 de Maio e não o 4 de Abril 



Não é esta tomada de São Lourenço, em 4 de Abril, por militares e populares que vinham da I República, e por isso atacados hoje pelo poder  na Madeira, que o poder ilhéu comemora....

...Mas sim a marcha em 2 de Maio das tropas continentais (desembarcadas no Caniçal) rumo ao Funchal, a fim de prenderem e exilarem os revoltosos, onde se incorporara a esquerda da época. 


Estamos em crer que o vereador Henrique Costa Neves ansiava por uma oportunidade destas para devolver ao seu antigo chefe Jardim as desconsiderações e ofensas dos últimos tempos. Então, aproveitando a cerimónia do 4 de Abril, sacou do protocolo e pregou com ele em cheio no orgulho do 'Único Importante', recusando estender a mão quando a isso convidado. Albuquerque e demais autarcas funchalenses anti-Angústias estiveram metidos na trama, ou estaremos a especular?

É que isso do protocolo exige algumas considerações. A começar pela pergunta: que andaram a fazer os responsáveis por essa parte do programa, incluindo João Carlos Gomes, que é pago todo o ano pelo governo (antes a Secretaria dos Recursos Humanos e hoje a da Educação) para garantir um ou dois trabalhos como este, passando o tempo ao serviço da Assicom?
Aquela cerimónia parece mal-assombrada. Num ano tocam o hino da Região primeiro do que o Nacional, noutro é a gaffe no discurso, agora o protocolo a fazer chocar entidades umas contra as outras.
Não?
Logo à chegada. Como se sabe, aquilo é por ordem. Apeia-se o representante da Câmara, que cumprimenta a entidade seguinte, o presidente do desgoverno, à chegada deste. Finalmente, aparece a entidade máxima regional, o presidente da Assembleia Legislativa. Pois este ano aquilo foi Miguel Mendonça ali à espera de Jardim - ao contrário do que manda o protocolo -, queimando tempo a inspeccionar o seu carrão preto parlamentar. Até que chegou então o rei da tabanca... agredindo o protocolo no atraso, mas levando com ele quando se dirigiu a Costa Neves.
A bagunça não se ficou por aqui. Ao contrário dos ditames da etiqueta, Jardim antecipou-se a Miguel Mendonça na deposição do ramo de flores no monumento, e depois dele avançou para o mesmo gesto Henrique Costa Neves.
Uma fossada.


A hipocrisia de que não se fala

O facto mais visível da cerimónia foi essa recusa de Costa Neves de embarcar nas habituais hipocrisias do quotidiano madeira-novense. Uma pessoa é ofendida pelo chefe e logo depois se agacha perante uma palmadinha. Com Costa Neves foi diferente.
Mas há outro comportamento hipócrita que ano após ano passa despercebido.
O 4 de Abril, no espírito dos madeirenses, representa um grito de revolta contra o fascismo que em 1931 se enraizava no País cultivando, entre as suas componentes, um desprezo cada vez mais execrável pela Madeira, que Salazar (em carta a João Abel de Freitas) não escondia.
As condições para o movimento precipitaram-se na sequência da 'Revolução da Farinha' (que muitos confundem com o 4 de Abril, apesar de ter ocorrido dois meses antes, em Fevereiro, com algumas mortes no Funchal). Se a 'Revolução da Farinha' fora genuinamente madeirense, popular, o 4 de Abril já contou com reforços: militares em serviço e os deportados que a ditadura enviara para cá.
Oficiais madeirenses e continentais colocados na ilha e muitos deportados planificaram o golpe. E o povo aderiu em massa, jamais cessando apoio aos bravos revolucionários até à rendição final - tragédia político-militar que ficou a dever-se ao então pároco do Caniçal, que ensinou aos expedicionários salazaristas a bordo da 'Esquadra do Carapau' como desembarcar e progredir no terreno até Machico.
Retomada a situação anterior, os madeirenses e continentais afectos à ditadura, detidos no Lazareto durante os 28 dias da Revolta, voltaram aos seus postos e meteram nos calabouços os militares e os populares mais desatacados na luta contra os ditadores. Seguir--se-ia o degredo em África. Entre os revolucionários banidos, figurava o valente coronel Ernesto Machado, avô do presidente da Câmara do Funchal, Miguel Albuquerque.

E onde está a hipocrisia na actualidade? 
Sabe-se o que alguns crânios do poder regional madeira-novense costumam dizer dos políticos e militares da I República, período marcado pelos desmandos. E de outra forma não poderia ser. Balbuciava um regime republicano ainda criança, depois de 7 séculos de monarquia. 
Pois o movimento de 4 de Abril de 1931 sustentou-se precisamente nos militares e políticos da I República entretanto marginalizados pelo salazarismo que se impregnava no Estado português. Em foco, velhos activistas do PRP (Partido Republicano Português) e de outros partidos com papel importante antes e depois de 1910.
Então, os detentores do poder hoje, que tanto verberam a I República, comemoram o golpe interpretado e apoiado por velhos republicanos, em 1931? Aqueles a quem estes ignorantes chamam os 'comunas' da época?
Seria mais decente se tais cavalheiros comemorassem o 2 de Maio de 1931, maldito dia em que as forças da ditadura sufocaram a nossa revolta. Se vivessem na altura, os actuais oportunistas estariam, em 2 de Maio, a sair eufóricos do Lazareto para ajudar a prender e a mandar para os confins do Equador aqueles que dizem homenagear, hoje.
É só ver os figurões que fizeram a política madeirense de 1931 em diante, perseguindo com apoio da Situação muitos conterrâneos madeirenses que acabaram por morrer ignorados, sem que se lhes fizesse justiça sincera.
Deixem-se de hipocrisia, celebrem o 2 de Maio! Sem pruridos. Pelo menos não serão acusados de incoerência e oportunismo.


Nota - O ex-JM não assistiu ao episódio que marcou a agenda regional nas últimas horas, a nega de Costa Neves ao cumprimento presidencial. Vimos na última página de hoje um comunicado das Angústias a lamentar essa "falta de educação" de Costa Neves e corremos à zona da reportagem da cerimónia para ver o que se dizia de tão excitante acontecimento, com significado e consequências muito além de um simples fait-divers. Bolas! Ou estamos a precisar de óculos ou o caso simplesmente não se deu. Nem uma palavra sobre o assunto! Ou seja: na última página, o ex-JM divulga um comunicado sobre um assunto... que não aconteceu! Mais uma originalidade do ex-JM (que evidentemente não é obra dos jornalistas).


2 comentários:

jorge figueira disse...

Nada que a História já não tenha registado. Basta ver-se o trabalho dos historiadores na reinterpretação Histórica exigida pelos sovietes. Assim tudo ficava a contento dos chefes.
Manter a coluna na vertical não fácil. H.C.NEVES manteve-a merece um enorme BEM HAJA.

Luís Calisto disse...

Da nossa parte, reforçamos a homenagem ao Eng.º Costa Neves.
Quanto à História, Caro Dr. Figueira, eles reinterpretam-na, mas nós também não somos gagos (sem ofensa). Somos capazes de contar umas coisas.