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quarta-feira, 26 de junho de 2013





HISTÓRIA COZINHADA 'À JARDINEIRA'

Aproveitando-se de uma fatalidade alheia, sua excelência desfere outra machadada na História para se auto-elogiar 



A Frente Centrista foi um 'flop'
- desculpem-nos  os
drs. 
Aragão e Pontes Leça.
Quem tiver a paciência de ler o mal amanhado artigo do chefe PPD no ex-JM desta quarta-feira (26) concluirá connosco: cada vez que fala do passado político da Madeira, o cavalheiro em questão vai acrescentando um ponto aqui e tirando outro acolá. Mais meia dúzia de crónicas do género e havemos de ler ainda que ele não é apenas o Único Importante mas também o Único Madeirense dos últimos 40 anos.

Uma pessoa esmiúça tal arrazoado e, sem querer, assusta-se. Nas suas periclitantes palavras, que diz escritas "Em memória do Dr. Luciano Castanheiro", recentemente falecido, sua excelência pinta o quadro de 1974 de uma maneira!... Ele não se refere à turbulência própria de uma revolução que derrubava um regime de meio século. Ele apavora os leitores dando a entender que, para esta terra, o 25 de Abril foi o abrir da Caixa de Pandora. Tantos males que estavam nesta ilha encavernados, à espera de soltura!
Ele começa por contar o que era Maio de 74. Tremam, homens ingratos!
"O Funchal estava ocupado por comunistas do PCP e da FEC (m-l)". E por um PS "tão ou mais radical do que os próprios comunas". Segundo seria mais tarde descoberto pelo senhor que escreve este artigalho, "nem o PS/Lisboa queria ter a haver (sic) alguma coisa com tais 'camaradas'" da Madeira.
A tropa que vegetava por aí era de uma "absoluta incultura política, só dizia ou consentia asneiras". O chefe da tropa era um homem com "princípios", escreve 'Meio Chefe', mas que, "sem norte, não conseguia exercer o poder". Pobre Azeredo!
Depois, mas é óbvio, havia os Blandy, que, "numa rotação de 180 graus, tinham cedido aos comunistas, ao estilo bandalhoco (sic) do salve-se quem puder".
"Um movimento democrático nascido da burguesia esfumara-se em cagaço, contradições e discussões pessoais tontas", continua o negro panorama pós-Abril visto pelos óculos de 'Meio Chefe'. 
Com mais isto:
"Padres, hoje ex-padres, muito mal formados, auto-promoviam-se ridiculamente a 'líderes' revolucionários."

Exclamará neste momento o Leitor: mas de uma situação assim, cheia de minas e armadilhas, a Madeira não conseguiria escapar!
Pois, a Madeira não conseguiria escapar de um inferno daqueles... se, por bênção celeste, não descesse à Terra um ente puro, ariano, predestinado para resgatar as Ilhas Encantadas das labaredas que a Revolução dos Cravos ateara.
É que, ao ver os perigos mil sobre as nossas cabeças, o professor da Escola Industrial sotor Jardim, num dia em que ia a sair do Golden Gate, por acaso a seguir ao almoço, dirigiu-se ao Dr. Henrique Pontes Leça e, por outras palavras, desafiou: vamos acabar com esta bagunça!
Palavras da salvação.

Pois. Olha lá se não aparecia este salvador da pátria, que seria de nós? Não fulgurasse tal criatura valente na hora certa e o mundo mandaria celebrar, já no próximo ano, a missa do 40.º aniversário do enterro da Madeira - que a esta hora jazeria no fundo do mar, aos cacos, misturada com a Atlântida.

Mas não. Havia quem se interessasse em libertar a Madeira de todos os males soltos pela Caixa de Pandora. 
O homem falou, pois,  com o Dr. Pontes Leça. Então, chegaram-se o Dr. António Aragão e o Dr. Luciano Castanheira. Dentro em pouco, surgia a Frente Centrista, a tal "estrutura politicamente moderada" de que fala sua excelência hoje no seu panfleto.
Seria esta Frente Centrista quem traria para cá o PPD fundado por Sá Carneiro - no escrever de 'Meio Chefe', está bom de perceber.

Que ponto acrescenta à História o homem hoje, nesse artigo?, perguntarão os nossos ansiosos Leitores. O acrescento é este: que António Gil Inácio da Silva se "juntou posteriormente à Frente Centrista". Ou seja, que António Gil se juntou posteriormente àqueles que defendiam uma política moderada e que, em Agosto de 1974, já "com mais de meia centena de militantes", decidiram "integrar-se no então PPD". Palavras do chefe.

Bolas, onde está esse cozinhado 'à jardineira'? Que tem de errado essa narrativa histórica?
Tem que aquela Frente Centrista não passou de um 'flop', em que poucos acreditavam. Figuras de prestígio na altura declinaram convite para integrar tal formação - como o Dr. Baltazar Gonçalves e o Eng.º Klut de Andrade. 
Aquela facção nada fazia com impacto popular e, definitivamente, não inspirava confiança nenhuma enquanto projecto político.
Depois de muita insistência, lá conseguiu o prof. Jardim convencer alguns madeirenses a pôr o nome por baixo do programa da Frente, necessário para que esta pudesse existir. Assinaram Emanuel Rodrigues, Nicolau Freitas, José Alberto Vasconcelos, António Cristiano Loja e outras 40 pessoas. Mas às poucas sessões públicas da organização compareceram escassas dezenas de curiosos. 
Aquilo eram uns comunicados a foguetear na imprensa e nada mais.
A Frente Centrista que 'Meio Chefe' pretende mistificar cada vez mais nenhuma força teve durante a sua cinzenta existência, ou seja, até que António Gil aproximasse da Madeira o PPD de Sá Carneiro/Balsemão.
António Gil? 
Claro. Não foi a Frente Centrista que se lembrou do PPD, foi António Gil. 'Meio Chefe' conhece a verdade e por isso é que agora mete António Gil na Frente Centrista... "posteriormente" 

Aconteceu isto: ao saber que no Continente estava em gestação um Partido Popular Democrático, António Gil Silva escreveu a Sá Carneiro para saber das suas linhas programáticas. Essa carta seguiu a 3 de Maio de 1974. Dois dias depois, era Pinto Balsemão a escrever a resposta fornecendo os pormenores pedidos.
Semanas passadas, de visita a Lisboa, António Gil falou pessoalmente (não chegou a 2 minutos) com Sá Carneiro, dizendo-lhe que a melhor opção era estender o PPD à Madeira por via dos simpatizantes que já se reuniam no Funchal para esse fim, mas sem esquecer os componentes da Frente Centrista.
É que, aí por Maio, Junho e Julho, figuras como o Dr. Matias, Daniel Catanho, Jorge Sardinha, António Varela e o próprio António Gil dinamizavam acaloradas reuniões pró-PPD dentro de uma sede montada na Rua da Carreira, 67 - 2.º.
O professor Jardim passou a tomar parte nestas reuniões do PPD original, que também ocorreram na Caixa de Previdência, mas sem conseguir impor a sua vontade como conseguiria impor no futuro. Ali todos falavam, quando ele, como se sabe, gosta de falar sozinho. Até que um dia não teve remédio senão abandonar o comício e afastar-se dessa facção do PPD. 
Seria António Gil a ir buscá-lo outra vez, mais tarde, a fim de o integrar no movimento sá-carneirista.
Esta é uma história diferente daquela que Jardim vai alterando com o passar do tempo. Ele até já diz que os primeiros PPD's eram comunistas lá infiltrados! Consideremos esse mau perder como piada.
Temos cópias da carta escrita por António Gil para Sá Carneiro e da que Balsemão escreveu para António Gil. Em caso de dúvidas sobre aquilo que relatamos...
É curioso o desespero de 'Meio Chefe' para incutir grandiosidade à famigerada Frente Centrista, na ideia de, por essa via, atribuir a si próprio uma importância que não teve nos primórdios do PREC e na fundação do PPD-Madeira. 
Até à assinatura do acordo com o PPD nacional, abrangendo os dirigentes da Frente Centrista e os activistas do PPD na Madeira, a dita Frente foi um bluff. A UPM, a FPDM e outras organizações mobilizavam 100 vezes mais gente do que os doutores da FC. 
Com que então, "um movimento democrático nascido da burguesia esfumara-se em cagaço"!? 
Cagaço? Essa agora!
O MDM - Movimento Democrático da Madeira, a que se refere sua excelência - encheu várias vezes o espaçoso Ateneu com os primeiros comícios na ilha depois do 25 de Abril. Ali debateram intensa e democraticamente anti-fascistas do perigoso tempo da ditadura, como Fernando Rebelo, António Loja, Manuel Gouveia e o próprio António Gil! Cagaço? Muitos elementos deste grupo haviam dado a cara pela oposição democrática contra Marcello Caetano e a sua Pide, em 1969, enquanto o prof. Jardim escrevia loas ao caduco regime na 'Voz da Madeira' e aplaudia as intervenções dos tachistas da ANP/UN em comícios eleitorais no Grémio da Fruta.
O 'cagaço' desse grupo foi tal, no pós-25 de Abril, que daí é que saíram as escolhas de nomes para presidir à Junta Geral e às câmaras. E daí saiu o primeiro governador civil do regime democrático, o Dr. Fernando Rebelo, porque Azeredo não conseguiu impor outra solução.
Depois, já líder do PPD, nos méritos e nas  loucuras de sua excelência, a conversa é outra, evidentemente.

Ficamos por aqui. Afinal, se Chefe Jardim quer insistir em se auto-proclamar fundador do PPD-Madeira, deixá-lo. Com os resultados trágicos que a Madeira sofre hoje depois de 30 anos de governação social-democrata, carregar essa coroa não só não é glória nenhuma, como se torna perigoso.
Gabe-se as vezes que quiser, e sem esperar pelo passamento de antigos companheiros para ter pretexto.


5 comentários:

Fernando Vouga disse...

Caro João Soares

Finalmente percebi a quem verdadeiramente se deve a derrocada do império soviético...

Anónimo disse...

O "soba das ilhas" ou "ùnico importante" ou "meio chefe" quer fazer a história ao seu jeito. É lamentável que os jornais que se publicam nesta terra reproduzam o take da Lusa segundo o qual AJJ fazia parte do núcleo fundador da Frente Centrista da Madeira. Não é verdade. Na altura, o nosso soba ainda estava a ver para onde é que a situação caía. Por outro lado é esquecido o papel, entre outros, do Dr. Acácio Matias. Enfim,a mentira repetida muitas vezes passa a ser verdade.

Fernando Vouga disse...

Caro Luís Calisto

A idade não perdoa. No meu comentário anterior, onde escrevi João Soares, queria escrever o seu nome.
Peço que me desculpe.

Anónimo disse...

Antonio Gil era o militante nº 1 do ppd madeira. mais tarde num daqueles arranjos de ficheiros é que alberto joao passa a nº 1 e se não estou em erro Antonio Gil a nº 3 .creio que já todos se aperceberam do que se passa , o alberto está doente e ve o mundo da cor que as fantasias da sua cabeça deixam ver.

Luís Calisto disse...

Caro Coronel
O seu lapso foi claro e inofensivo