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sexta-feira, 11 de outubro de 2013

ENTREVISTA



DEPOIS DE ANOS A DAR OUTRA FACE
ALBUQUERQUE PASSA AO ATAQUE



O presidente cessante diz que sai bem dos seus mandatos na Câmara e que é acarinhado nas ruas. Piada para o chefe.


Quinta-feira de emoções arrepiantes no laranjal culmina com entrevista na RTP apontada contundentemente ao chefe social-democrata. Prática pidesca e perseguição vergonhosa aos próprios militantes do PSD foram algumas das graves acusações feitas expressamente a Jardim pelo entrevistado Miguel Albuquerque. 



Esta quinta-feira foi politicamente marcada pelo anúncio feito por José Pedro Pereira sobre a sua decisão de voltar as costas ao grupo parlamentar PSD e passar a trabalhar como deputado independente. Mas o dia não acabou sem assistirmos a uma entrevista na RTP a Miguel Albuquerque - e à estreia de um novo modelo de resposta aos insultos com que o líder do seu próprio partido o costuma flagelar.
O presidente da Câmara do Funchal, que cessa funções dia 21, de facto não falara por falar há um par de meses: passadas as autárquicas, ei-lo a reagir aos insistentes ataques de Jardim "sem receio de dizer frontalmente o que é preciso dizer".

Jardim fechado no carro preto e rodeado de seguranças

Na entrevista desta quinta-feira à noite, o candidato à liderança do PSD-Madeira tratou com a sua proverbial cortesia os rivais políticos no partido e os adversários de outras cores. Mas, sempre que o jornalista Virgílio Nóbrega chamou Jardim à conversa, o entrevistado não omitiu nada do que entendeu aplicar ao seu ainda líder, nem sequer se inibindo de lançar-lhe avisos directos relacionados com o próximo período electivo interno.
Em excelente forma oratória, Albuquerque deixou claro que nada o move contra Jardim ou contra qualquer outro militante social-democrata. "Sou feliz", arrumou esse aspecto da questão. Ou quase, porque também decidiu justificar essa felicidade, vincando a circunstância de não ter de andar de carro preto e rodeado de seguranças para evitar o contacto com as pessoas.
Dispensamo-nos de identificar o destinatário do lembrete.


O líder é o culpado; ataques no JM são vergonha de 3.º mundo


Mas os ataques desferidos a cada esquina da entrevista saíram com o nome do alvo bem expresso. Como por exemplo na abordagem às responsabilidades da derrota "clara" do PSD dia 29 de Setembro. Não, não se pode criticar autarcas derrotados depois de um bom trabalho realizado, a culpa vai para o líder, Jardim. Se, nas horas boas, o líder procura os louros, deve assumir-se na derrota. Albuquerque disse. 
Nessa ordem de ideias, não cabe a ninguém, senão ao chefe, a culpa da perda de 7 câmaras e 22 freguesias, além dos 25 mil votos que se foram, e, para lá dessa tempestade, o ciclo de 6 anos que já levaram ao PSD-Madeira 40 mil votos.
"Este é o resultado da contestação à liderança do PSD", considera o antigo presidente da JSD-M e substituto de Virgílio Pereira na presidência da Câmara do Funchal, em 1994, época em que merecia os maiores encómios da parte do chefe. 
Há uma evidente saturação ante esse estilo de liderança, insistiu Albuquerque, garantindo que os militantes não aguentam mais assistir à perseguição que Jardim move a quem não lhe segue fielmente as ordens. Essa perseguição surge plasmada nas páginas do JM, o que consubstancia uma "vergonhosa postura própria do 3.º mundo". 
Mas é uma prática vulgar na direcção sem cultura democrática vigente no PSD-M, com a exclusão de militantes e uma política de permanente fractura, a virar pessoas contra pessoas. "Sim, o Dr. Alberto João Jardim", apontou imediatamente Miguel perante o pedido de esclarecimento do jornalista sobre quem actua daquela maneira.
Miguel Albuquerque previa endurecer o discurso em Janeiro do ano que vem. Mas esta quinta-feira foi o dia de começar a corresponder em força e ostensivamente às hostilidades abertas pelo chefe há muito tempo.


Humberto, Simplício e Pimenta perseguidos

É urgente o PSD substituir Jardim - avisou Miguel - Porque esta liderança distanciada das pessoas e cegamente arrogante perdeu adesão dos porto-santenses e dos madeirenses. As eleições mostraram essa realidade. E tal foi o malogro eleitoral que, no lugar de Jardim, Albuquerque apresentaria imediatamente a demissão do cargo de líder. Foi o que assegurou na entrevista.
É preciso mudar e rapidamente, afirmou. Evitar que o chefe continue com os seus erros de postura perante as pessoas, de condução do partido, de se fechar às ideias da sociedade civil. "Parece que tem medo de ouvir os empresários, a sociedade civil", criticou.
Como pode um líder governar o partido como faz Jardim e ganhar eleições? Já não ganha. O que é fatal quando se perde a noção da realidade, quando se perde o contacto com as pessoas. Críticas de Miguel Albuquerque. 


Virgílio Nóbrega perguntou o que queríamos saber.

Jardim acusou-o na comissão política regional (CPR) de culpado pelo recente desastre eleitoral? Hilariantes as considerações que o chefe teceu no JM a narrar essa reunião da CPR, sorri Albuquerque. Para logo muscular a reacção: Considero uma vergonha, uma regressão cultural, o Dr. Jardim querer expulsar o Humberto Vasconcelos, o Simplício Pestana e o João Pimenta. Contesto essa forma vergonhosa e pidesca de fazer política. É uma situação indigna. É mau para o PSD, mas sobretudo é mau para a vida cívica da Região."


Antes que a oposição continue a crescer

Perante o estado de coisas no PSD, Miguel Albuquerque vê toda a urgência na antecipação do congresso, por enquanto marcado para Janeiro de 2015, com eleições internas em Dezembro anterior. Porque o partido, perdida que está a proximidade com as pessoas em muitos concelhos da Madeira, precisa de reconquistar rapidamente a sua base de apoio. Congresso em Junho, propõe, a fim de que a mudança se dê antes que a oposição ganhe demasiado terreno, lançada pelos resultados eleitorais das autárquicas. 
O PSD precisa de escapar ao labirinto onde o meteram. Debater ideias em congresso e ouvir pessoas sobre a melhor linha de rumo para a Região. Sem traumas. Sem ignorar quantos, como Jardim, trabalharam para mudar a Madeira. Albuquerque reconhece-o. Porque a História não deve ser apagada. "Mas estamos perante um novo ciclo", interpõe. "A situação da Madeira é muito complicada, aos níveis social, económico e político. Há que trabalhar a curto, a médio e a longo prazo. E quanto mais depressa, melhor."


Sem a legalidade respeitada, Miguel não se candidata desta vez


Que vai Albuquerque fazer, agora que sai da Câmara? Primeiro, vai aguardar pelo dia 21, que é quando abandona de vez os paços do concelho, depois de 19 anos de trabalho. Então, irá trabalhar naquilo que sabe fazer (advocacia). Ao mesmo tempo, contactará militantes, falará com muita gente. Não quer tomar decisões precipitadas. Manuel António e Miguel de Sousa são candidatos à liderança? É bom para o partido que surjam projectos para enriquecer o debate, acha Miguel Albuquerque. "Nunca tive problemas em debater projectos", assume-se.
O importante é participar, como tenciona fazer, concorrendo à chefia do partido. Mas - avisa - que fique claro: "Só estarei disponível para me candidatar se estiverem reunidas as condições para cumprimento da legalidade estatutária e se houver transparência no processo eleitoral." 
Faz essa observação porque "da outra vez não respeitaram os estatutos nem a legalidade". A máquina do partido esteve toda e sempre ao lado de Jardim, negando a Miguel o direito de acesso a documentação que devia estar disponível. 
"Agora estaremos atentos. Ouço rumores de militantes a entrar e de outros que não deixam entrar..." E repete, para deixar assente: "Só serei candidato se as regras forem todas cumpridas."


É suicídio governar sem ir a eleições regionais

Se ganhar o congresso, Miguel insiste em provocar eleições regionais antecipadas. "É suicídio alguém mandar se não for antes sufragado nas urnas", disse. "Lembrem-se do que aconteceu a Santana Lopes. Será que o PSD-Madeira hoje tem medo de eleições, tal como ganhou medo às opiniões da oposição? Eu não tenho medo de eleições nem de ouvir as opiniões da oposição. Não podemos é adiar soluções."
É ir, portanto, a eleições antecipadas e governar mesmo sem maioria absoluta. Há sempre possibilidades de entendimento com outros partidos - afirmou Miguel Albuquerque. "Governar com prepotência é fácil: é assim, tem de ser assim e não há discussão. O regime fascista dizia como era e quem não obedecesse havia a polícia política." Já para Miguel, há é que governar em coabitação com os outros. 


Negociatas e divergências

Sobre a história das "negociatas" e do conflito com João Cunha e Silva, Miguel Albuquerque disse que também teve divergências com colegas de vereação, mas que isso se apaga com o tempo. Avançou que o conselho regional deve reflectir as diversas tendências do partido e não apenas a do chefe. "O líder do partido não é mais importante do que os outros militantes." 
Admitiu a necessidade de renovar os quadros do PSD. Há gente competente para aproveitar, dentro do partido, mas é importante abrir portas às outras pessoas, aos jovens, aos social-democratas com valor que existem na sociedade. Porque podem ajudar muito no desenvolvimento da Madeira.
Se ganhar a liderança, Miguel Albuquerque tentará melhorar sobremaneira as relações com o governo central, porque actualmente, denuncia, o governo regional "não tem credibilidade nenhuma junto das instâncias nacionais". 
Miguel explicou ainda as suas ideias para recuperar a Madeira, o que passa por um tratamento adequado ao Plano de Ajustamento, contra o qual sempre se manifestou.

"Não meti familiares meus em empregos do governo"

O futuro deve ser enfrentado sem fugir às responsabilidades, ao contrário do que tem acontecido. O líder é o responsável - insiste Miguel - Não é o Simplício Pestana nem são outros os culpados.
É nesse espírito que tenciona tomar conta do partido. Sem azedume: "Que fique bem claro que não tenho nada de pessoal com o Dr. Jardim. Tenho profundas divergências políticas, isso sim. Ele continua a escrever artigos abjectos sobre a minha pessoa, mas não guardo rancor."
Um dia, Jardim atacou: Albuquerque irá para o desemprego, uma vez deixando a Câmara do Funchal. 
"Nunca lhe pedi nem pedirei emprego", reage ainda hoje o edil cessante. "Vou trabalhar naquilo que sei fazer. Já agora... eu nunca meti familiares meus no governo." 

1 comentário:

Anónimo disse...

Albuquerque nunca meteu familiares dele no Governo, é certo, mas tratou de arranjar um lugarzinho para chefe de divisão na CMF à sua atual companheira. Para que conste devidamente.