DELFINS

JARDIM PLANEIA EXPULSÃO 

DE MIGUEL ALBUQUERQUE

Jardim dá corda e Miguel estica-a, como o chefe quer.

* O líder social-democrata vai tecendo a teia para grudar e neutralizar os delfins um a um, a começar pelo ex-presidente da Câmara

* Albuquerquistas andaram esta segunda-feira na zona oeste a recolher assinaturas para exigir o congresso

* Sérgio Marques faz reunião com possíveis apoiantes sexta-feira, antes da comissão política

Para se recandidatar à liderança do PPD-Madeira e continuar em condições de vencer as eleições internas, Jardim sabe que é condição 'sine qua non' afastar da corrida o seu maior e provavelmente intransponível obstáculo: Miguel Albuquerque.

Os barões conhecedores dos cantinhos do Laranjal segredam: ele vai expulsar Albuquerque.

Não tem que saber. O ex-presidente da Câmara do Funchal apresenta-se, de momento, como favorito à vitória nas internas. Quase bateu Jardim em 2012 e desde então não houve sequer sondagens que mostrem inversão da tendência. Logo, é ali que Jardim, evidentemente interessado em continuar a mandar no partido - e no governo - precisa de trabalhar.

Interessado em continuar? 

Sim, como sempre. Ainda por cima, e segundo os barões, há ténues sinais de retoma económica este ano, com certo alívio no desemprego e no cinto das famílias. O chefe poderá acenar ao 'povo enganado' com o regresso aos velhos tempos.

ALBUQUERQUE PÕE-SE DE PROPÓSITO A JEITO DA EXPULSÃO?

A teia está bem urdida. Jardim insiste na provocação a Miguel Albuquerque e obriga-o a subir o tom do contra-ataque. Táctica perfeita, para já. 

Na sequência dos artigos que escreve semanalmente no DN, o delfim 'ressabiado' abordava, dia 4, o caso da expulsão de Humberto Vasconcelos, acusando a "deriva autoritária que está a tomar conta do partido", que a seu ver constitui uma "desvergonha política". Mas, mais atrevido ainda, condena "os tiques de um líder Alberto João Jardim que teima em transformar o PSD-M numa coutada de pensamento único".

Jardim a ler e a esfregar as mãos de contente.

No mesmo artigo, Albuquerque, não se abstém de atribuir ao chefe o uso de "cambalachos" e "insultos publicados no JM contra companheiros de partido", os companheiros que acham chegado o fim do ciclo político do líder. 

Esses "delírios repressivos", escreve Miguel Albuquerque, "são um ultraje aos direitos essenciais de militância e cidadania e ameaçam devorar o próprio partido".

Os observadores internos raciocinam. 

Albuquerque, tal como em peças anteriores, tece acusações gravíssimas à liderança do partido. 

O partido, pela voz do líder, tem avisado e ameaçado de expulsão quem tente desestabilizar o ambiente interno.

Veja-se agora o que o Regulamento de Disciplina do PSD nacional, que rege as representações regionais, considera infracção:

f) manifesto desrespeito pelas deliberações emitidas pelos órgãos competentes do Partido, designadamente através dos órgãos de comunicação social;

n) estabelecer polémica com outros membros do Partido, fora dos quadros ou órgãos 

partidários, desde que a discussão incida sobre deliberações dos respectivos órgãos estatutários e seja susceptível de pôr em causa a eficácia daquelas directrizes.

Ora, estas alíneas disciplinares dão para tudo o que Jardim, dono do aparelho partidário regional, queira fazer para se livrar de Albuquerque, com base nas declarações públicas e nos artigos de opinião.

É o sentimento dos barões, nem todos apoiantes do chefe supremo.

Paralelamente, andaram esta segunda-feira pela Calheta e pela Ponta do Sol, segundo nos informam, apoiantes de Albuquerque a recolher assinaturas destinadas à exigência do congresso antecipado a que Jardim e o conselho regional já se opuseram. Aí, será difícil o conselho de jurisdição instaurar um processo disciplinar que leva à expulsão do mentor do movimento. Os estatutos dão aos militantes o direito de propor a realização de congressos. 

Será difícil. Mas com Jardim nunca se sabe. Os 'Deveres dos Militantes' obrigam a "ser leal ao programa, estatutos e directrizes do partido, bem como aos seus regulamentos".

Ainda no seio do baronato laranja, há quem considere que Miguel Albuquerque se expõe à expulsão... de propósito. Para transformar-se em mártir, dizem uns. Porque está mais interessado na vida dos negócios, dizem outros. E há também quem diga que Miguel não está com disposição para a grande guerra que se avizinha na corrida do Laranjal. Se tem gente a recolher assinaturas é por pressão dos apoiantes, que quase desmobilizaram por causa da "brandura" do candidato na conferência de imprensa realizada depois do 'banho' do PPD nas autárquicas.

Miguel Albuquerque é que sabe o que realmente pretende.

SÉRGIO MARQUES EM 'CÂMARA LENTA'

A indefinição não ajuda um candidato.

Jardim não dá descanso a Miguel Albuquerque. Ataca-o insistentemente. E está a conseguir os argumentos de que precisa para os seus objectivos.

Digamos que a perigosa aranha tem Albuquerque prestes a grudar-se à teia. Uma vez ultrapassada essa etapa, será a vez dos outros delfins.

Sérgio Marques, com potencial para preocupar Jardim, continua no entanto membro da comissão política e diz querer lá continuar enquanto se sentir bem e os companheiros se sentirem confortáveis com a sua presença.

Situação estranha, para não dizer aberrante.

Na próxima sexta-feira, o antigo eurodeputado fará nova sessão política em casa, junto ao Jardim Municipal. Dirá evidentemente aos potenciais apoiantes como pretende mudar o rumo do partido. E logo depois vai tomar parte e possivelmente aprovar decisões de uma comissão política de que discorda, a ponto de lhe querer mudar o rumo!

Depois de várias situações ambíguas na sua carreira, todas elas provocadas pelo chefe, e quando se lançou a uma corrida que exige ruptura, o posicionamento de Sérgio continua intrigante.

Parece que o antigo deputado europeu, decerto involuntariamente, só está a facilitar a vida do chefe, que, uma vez livre de Albuquerque, neutralizará Cunha e Silva e Manuel António pela persuasão e Miguel de Sousa por causa do apelido. Restará um Sérgio Marques que vá à luta com o carismático a paternalista chefe?

Jardim já percebeu que, consigo à frente, o PPD-M apanhará tremendo banho nas próximas eleições regionais, perante uma oposição que não perderá tal oportunidade. Desenlace que será o fim do outrora poderoso partido. Mas que é isso se, por essa via, ele estrebucha mais uns tempos e fica com os meses de governação que prometeu a Manuel António?