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quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

LEMBRANÇAS




ISTO É QUE É UM 'PORRÃO'!

No centro de dia das Angústias, vão reescrevendo a História consoante as necessidades. Fica mal. 



O Presidente Sampaio a ouvir o povo, na ocasião em que decidiu ir ao 'Porrão'. Não foi àquele antro 'irreal' por 'ordem' do chefe tribal.


Alguns madeirenses terão reparado que sua excelência, o presidente do governo, intensificou nos últimos tempos uma campanha eleitoral a favor de si próprio. É estranho em quem jura pelo que há de mais sagrado estar a emalar os trapinhos para no fim do ano passar as Angústias ao cavalheiro que se segue. Vendo bem as coisas, e já que está de saída, segundo garante, a que propósito anda o homem a bradar nas páginas do JM "eu dei tanto a Santa Cruz, eu dei tanto ao Marítimo e ao Nacional, eu ajudei a saúde em tanto"? Não sendo rico, será que tem acertado no euromilhões todas as semanas, para dar tanto?
Lá vai ele recordando "eu fiz este viaduto ali, eu fiz o maior túnel do mundo acolá, eu ergui edifícios além" - como se fosse um engenheiro de envergadura para erigir isso tudo.
A par desses escrevinhanços no JM, autêntica e empenhada campanha eleitoral, não pelo seu partido ou por algum dos seus delfins, mas por ele próprio, ei-lo que vai aproveitando acontecimentos os mais diversos para se mostrar em fotos lado a lado com figuras de relevo, como aconteceu quando Mandela morreu, metendo na primeira página uma foto de ambos, e agora quando Ronaldo andou na berlinda por causa do museu e de mais uma 'bola de ouro'.
Mas isso é situação para os delfins lá do laranjal puxarem da cabeça e tentarem perceber os reais anseios do chefe.
O que mais nos traz a meter o nariz onde não somos chamados é na maneira de 'Meio Chefe' recontar, reinventando, a História destes quase 40 anos. É um pestezinho para moldar cada episódio da telenovela jardinista 'a posteriori', de modo a ficar bem no retrato que o futuro lhe há-de fazer.
Nos últimos dias, assistiu-se a uma digressão quase delirante pelos benefícios habitacionais que o legítimo Rei da Tabanca trouxe do céu à tribo. Como se sabe, antes de Março de 1977, quando o Eng.º Ornelas Camacho foi apunhalado pelas costas para largar a presidência do governo, os madeirenses viviam todos em palhotas e, não fora a encarnação daquele deus emergente da União Nacional, ainda hoje andaríamos todos de corça e não saberíamos o que é uma televisão ou sequer um computador.
A propósito de todas as suas façanhas no campo habitacional, como se fosse proeza pegar nos milhões que vinham de fora e, no meio de tanto desperdício, encher os bolsos dos empreiteiros para fazerem casas - a narrativa dessas façanhas levou-o a recordar a 'Casa do Porrão'. Aquele antro em Câmara de Lobos celebrizado quando da visita do Presidente Jorge Sampaio à Madeira, em Março de 1998.
No artigalho de terça-feira passada, o homem, na sua habitual modéstia, relevou a inevitabilidade que... É melhor transcrever: O Presidente Sampaio, "para além dos problemas em cima da mesa, inevitavelmente deparava-se com a infraestruturação de sucesso que os meus governos vinham concretizando." 
Mais escrevinhou: os jornalistas vendidos não mostravam para o Continente, nessa visita, a obra regional que o Chefe de Estado via. Na lógica da estratégia sinistra gizada pelos controladores da opinião pública nacional, "os lacaios empregados dessa gente, em uníssono, apagavam tudo o que decorria na visita presidencial, usando a técnica de repetidamente metralhar apenas sobre um problema habitacional e social existente na tal 'casa do Porrão' (3 ou 4 famílias...)."
Conta ele que, "para acabar com a cena", disse ao Presidente da República: "Vamos à casa do Porrão, mesmo sem estar no programa!"
Ao que Sampaio respondeu, desconfiado, segundo a narrativa dele: "Acha?..."
Pouco depois, mal chegados à casa da polémica, o chefe regional subiu para um muro, causando espanto em Sampaio, após o que prometeu às pessoas um bairro novo para dentro de um ano. Anunciando: e o sr. Presidente da República estará presente.
 Assim ficou agora, 'preto no branco', na última página do JM, para memória futura. 

Ora, o caso não tem importância que se veja. Se entramos em cena é para que se perceba como ele, Rei da Tabanca', molda os anos loucos do desenvolvimentismo à maneira dos seus interesses.
É que... também estivemos a trabalhar, em reportagem, durante a visita oficial de Jorge Sampaio. Lembramo-nos do episódio 'Porrão' como se houvesse ocorrido ontem.

Não é verdade que os jornais - nacionais ou regionais - andassem a "metralhar" no problema social do "Porrão". O pano de fundo dessa visita era feito de notícias sobre pedofilia em Câmara de Lobos, com denúncias da deputada belga Nelly Maes e um processo judicial do governo regional a esse propósito contra o Expresso. Um ruído ensurdecedor que chegou a incomodar o próprio Sampaio.
Daí que a visita da comitiva presidencial àquele pitoresco concelho fosse encarada sob incómoda tensão. 
Afinal, o tema 'pedofilia' pouco viria ao de cima nesse dia. Apenas um abaixo-assinado distribuído pelos membros do Centro Social e Paroquial de Santa Cecília, com indignação pelo facto de andarem a generalizar às crianças todas do concelho um problema real, mas circunscrito.
O que acabaria por dominar essa atribulada visita de Sampaio e Jardim a Câmara de Lobos foi o caso 'Porrão' sobre o qual apenas circulavam rumores. 
Tocavam-se os hinos Nacional e da Região no Largo da República, junto à Câmara, quando as entidades viram cartazes nas mãos de crianças e mulheres com inscrições como "No Porrão até os ratos estão desalojados" e "Nem os animais vivem como nós".
Acabados os hinos, Sampaio dirigiu-se aos manifestantes, meteu-se dentro do assunto e acedeu ao que lhe pediam: visitar o 'Porrão'. Decisão que Jardim, verdade seja dita, achou interessante - que outra posição poderia ostentar?
Ou seja: não foi Jardim a dizer ao Presidente da República "vamos à casa do Porrão mesmo sem estar no programa" e não aconteceu Jorge Sampaio responder, "desconfiado", com a pergunta "acha?"
'Meio Chefe' minimiza aquele 'Porrão', no artigalho desta terça-feira, dizendo que lá viviam "3 ou 4 famílias'. Ora, sabe-se que as famílias em Câmara de Lobos costumavam ser numerosas. Mas também uma família num quarto com quase 50 pessoas, homem?! É que lá viviam, naquele antro de doenças, nada menos do que 170 seres humanos! Eram muito mais famílias.
Parece mentira, mas não. Um nojo de ambiente com 3 latrinas para 170 pessoas! Um cheiro nauseabundo que se impregnava na própria comida. Ratos que saíam das pias e passavam por cima das crianças. Nove filhos a dormir no chão do quarto, uma filha a dormir em cima da mesa, a mãe com duas pequenitas numa cama de trapos, o pai ao relento, no quintal. Um casal e o filho a dormir na rua, abafados, ao pé da moto. A mãe a lavar os 8 filhos de mangueira - água jogada para "as partes".
Tudo motivo de reportagem, à época, para desespero de sua excelência.
Uma vez a comitiva presidencial chegada, é verdade que Jardim falou aos desesperados moradores. Pelo caminho, pedira ao PR que o deixasse controlar a situação, e assim foi. Sampaio e Jardim subiram para os tanques de lavar roupa. O chefe regional disse que nunca lá tinha estado, logo não prometera nada. Mas que agora sim, no ano seguinte estariam todos em casas novas. 
Mas é falso que tenha sido ele a dizer que Sampaio viria cá quando da inauguração, no ano seguinte. Sampaio é que, falando após Jardim, e já com melhor disposição, se prontificou a vir à Madeira nessa altura, uma vez que dava como prometidas pelo governo regional as ambicionadas casas, e então viria cá para confirmar tudo.
As incorrecções de Jardim se calhar não têm importância nenhuma. Porém, aconselham a dar o desconto quando ele conta situações antigas de maior responsabilidade.
Curiosamente, ele não se recordou de contar as reacções das pessoas no alarido que marcou a odisseia presidencial no 'Porrão'. Mas, se fizer um esforço de cabeça, ouvirá de muito longe a voz daquela mulher a dizer "se o sr. Sampaio não viesse à Madeira, o sr. Alberto João nunca vinha aqui ao Porrão!' - e também ouvirá os aplausos daquela gente à intervenção da corajosa mulher.

Chefe é capaz de negar tudo isto, de atribuir estes reparos à malvadez cá do pessoal. Mas tem com quem evocar bem o que se passou mesmo. O seu actual Delfim, Manuel António Correia, acompanhou tudo na qualidade de director do Instituto de Habitação. 
Ainda hoje, quando o assunto vem à baila nas conversas entre jornalistas que estiveram naquele nojo imposto a 170 madeirenses, e que o chefe agora reduz a "3 ou 4 famílias", não falta quem desabafe: "Aquilo é que era um Porrão!"


Um pormenor mais de que 'Meio Chefe' também não se deve lembrar. É o caso das honrarias que ele mesmo viu a Câmara do Funchal atribuir ao Chefe de Estado, Jorge Sampaio: Medalha de Honra da Cidade do Funchal e Título de Cidadão Honorário do Funchal. 
Sabe-se como sua excelência o Rei da Tabanca fica ciumento quando se prestam honras no musseque a gente de fora...
Pois, curiosamente, uma semana depois da estada de Sampaio entre nós, a Assembleia Municipal do Funchal deliberava atribuir a Jardim, sem contexto que se percebesse... a Medalha de Honra da Cidade do Funchal e o Título de Cidadão Honorário do Funchal.
Ele há coincidências!...








- As fotos de Manuel Nicolau na reportagem do DN (27 de Março de 1998) dizem tudo.

2 comentários:

Jorge Figueira disse...

Sao comportamentos proprios dos totalitarismos, adaptar a historia aos intereses do tirano. O Calisto esqueceu referir a presenca do deputado Edgar referido no texto, como perigoso comunista, e manipulador de emocoes populares. S. exa. descarrega a bilis sobre o homem. Habito que mantem quando procura um bode expiatorio para os seus fracassos. Jorge Figueira

konceptsketcher disse...

Bem haja quem tem memória fresca e não permita o branqueamento da História!