Laranjal na Barra

Uma casa destas - da lancha - origina confronto
 judicial entre dois antigos amigos.

'POSTO AVANÇADO DA DEMOCRACIA'

VAI A TRIBUNAL SEGUNDA-FEIRA

Guerra civil no antigo Laranjal pela posse de um baluarte da famigerada 'universidade de Verão': uma casa da lancha de que José António Castro diz ser dono quando Carlos Machado também reivindica como sua

A história é linear. José António Castro, figura pública de madeirense radicado há muitos anos no Porto Santo, ganhou em tempos a concessão legal de uma casa da lancha, como tanta gente fez. Nesse agradável pavilhão em cima da duna, um pouco a leste do cais antigo, decorreram muitas festas dos alucinantes verões de Alberto João Jardim. Convívios de tal modo marcantes que o ainda chefe regional baptizou essa casa da lancha de 'posto avançado da democracia', permitindo-lhe rivalizar em fama com o Bar do Henrique. 

A determinada altura, quem apareceu a fazer uso do agradável espaço no areal foi Carlos Machado, amigo de Castro e adjunto de Jardim na presidência do governo regional durante décadas. A versão corrente era que o então empresário do Porto Santo, hoje advogado, tinha oferecido os seus direitos ao conhecido membro do aparelho laranja da Madeira.

Só que, passado um par de anos, aparece Castro a reivindicar a posse da casa da lancha - que, como se sabe, é concessionada a título precário com licenciamento superviosionado pela câmara municipal, governo regional (portos) e governo central (capitania). Enfim, Castro quer o barracão ou então uma verba compensatória entre os 35 mil e os 40 mil euros, números que não conseguimos confirmar.

Perante a pretensão de Castro, Machado respondeu que tinha empatado muito dinheiro em obras realizadas no espaço em questão, o qual, afirma, lhe fora concedido pelo seu amigo Castro.

Essas obras, recorde-se já agora, causaram polémica na altura, por incompatíveis com a zona onde a casa está levantada.

E o imbróglio está neste pé. 

O assunto transitou para o tribunal e, passadas as fases preliminares, foi marcado julgamento para a próxima segunda-feira, logo de manhã.

Ao que nos dizem, João Carlos Gomes é advogado de Carlos Machado, que também conta com Rui Coelho e o porto-santense Clemente como testemunhas.

Já Castro é defendido, diz-se, por França Pitão, tendo Valdemar Camacho e António Vasconcelos entre as testemunhas arroladas.

Pelo meio, cedências que não terão sido cedências, assinaturas não reconhecidas como verdadeiras, dinheiros gastos ou não gastos - tudo a contribuir para o clima de expectativa criado na paradisíaca ilha.

Mesmo antes de se saber o resultado do julgamento, previsto para demorar dois dias no tribunal do Porto Santo, podemos reconhecer que o carismático posto sempre foi avançado no areal jardinista; agora em matéria de espírito democrático, parece que vai no rabo da lancha.