Powered By Blogger

quarta-feira, 16 de março de 2016


PASTORÍCIA NAS SERRAS
DA MADEIRA

A OPINIÃO DE TRÊS CIDADÃOS QUE SE DISTINGUIRAM NA DEFESA DOS ECOSSISTEMAS DA ILHA

Num momento em que se debate na Assembleia Legislativa Regional o regresso do pastoreio às terras altas do maciço montanhoso central da Ilha da Madeira, entendi por bem divulgar as opiniões de três homens, que se notabilizaram pela sua dimensão ética e pelo profundo conhecimento dos ecossistemas da ilha.
Seria bom que todos os deputados refletissem sobre os avisos do Conselheiro José Silvestre Ribeiro, do Eng. Rui Vieira e do Eng. Cecílio Gomes da Silva.
Área entre o Pico do Areeiro e o Pico do Cedro, setembro de 1995 (foto: Raimundo Quintal)

  
-       Conselheiro José Silvestre Ribeiro, governador civil da Madeira entre 1846 e 1852.
“Quem está à frente dos negócios administrativos da Madeira não pode um só momento perder de vista a arborização das suas serras, e a indispensabilidade de providenciar que se conservem religiosamente as matas que ainda existem, e se plantem novas nos sítios onde a devastação funestíssima de longos tempos tem chegado.
É por isso que não cessarei de chamar a toda a hora a atenção das câmaras e dos magistrados administrativos sobre este assunto, e pedir-lhes instantemente que se deem as mãos, e empreguem todas as diligências imagináveis para que se ponha um dique à devastação do arvoredo, e se trate novamente dos novos plantios.
Quantos inimigos se não conjuram contra o arvoredo? Aqui os lenheiros e carvoeiros; além os criadores de cabras e por ventura de outro gado; acolá os curtidores de peles, fazendo uso da casca do vinhático e do aderno para aquele mister; por um lado a indolência e o descuido das autoridades; por outro a falta de perseverança dos proprietários; e finalmente a impunidade dos devastadores.
Porque não havemos de acordar um dia desse letargo embrutecedor? Porque não abriremos um dia os olhos à luz da razão? Porque seremos surdos à voz dos nossos interesses?   
(…) Faltam-nos as leis? Não. Temos muitas, e além dessas, temos também posturas das câmaras, que para o caso de que se trata são leis imperiosas. O que nos falta é a vontade de as executar.
(…) Os vereadores são quem devia obstar à devastação das serras e concorrer fortemente para o plantio de novos arvoredos – diz o público; mas em vez disso, são indolentes, fecham os olhos aos abusos que se praticam e evitam a severa execução das leis, porque também entre eles há criadores de gado, também entre eles se aproveitam madeiras das matas, também entre eles se tira vantagem dessa devastação, que vai assolando tudo.”
(Carta enviada aos administradores de concelho a 28 de Fevereiro de 1850 – DRUMOND DE MENEZES,1850: 446-449).
Área entre o Pico do Cedro e o Pico Escalvado, setembro de 1995 (foto: Raimundo Quintal)


-       Engº Rui Vieira
“Eu diria até, numa atitude um pouco extremista mas mais consentânea com a realidade madeirense, que não se justifica haver gado nas nossas serras, porque o património florestal é mais importante que as cabeças que pastem nessas áreas. É que a pastorícia é uma actividade pouco rentável.
Ela só tem razão de ser em zonas onde haja um clima e um solo muito favoráveis à alta produção forrageira, o que não acontece na Madeira.”
(Diário de Notícias – 14.07.1989)

“Mas os trabalhos de rearborização e revestimento florestal, que interessa acelerar, também, para que não se intensifiquem processos de desertificação, de que há indícios em muitos pontos do arquipélago da Madeira – sejam de plantações de exóticas, sejam de reconstituição da floresta clímax – não podem ter êxito, se por um lado não se usar de todos os cuidados que a técnica silvícola recomenda e, por outro, se não se controlar o pastoreio, mais ou menos selvagem, nas áreas delimitadas que, para isso, forem destinadas e melhoradas, ou acabar de vez com a presença, nas serras da Madeira e Porto Santo, do gado, mais ou menos faminto, que continua a devorar tudo o que vai encontrando no seu caminhar contínuo e indisciplinado…”
(“FLORA DA MADEIRA, o interesse das plantas endémicas macaronésicas” – Serviço Nacional de Parques, Reservas e Conservação da Natureza, 1992)

Área entre o Pico do Areeiro e o Pico do Cedro, setembro de 1995 (foto: Raimundo Quintal)


- Engº Cecílio Gomes da Silva

“Habituado aos ambientes do fundo dos vales e das levadas, jamais esqueci a angústia que senti quando pela primeira vez galgámos o Pico das Pedras, lá bem acima da Alegria, e avançámos serra fora até ao Pico das Esteias.
Paisagem amarelada e salpicada de cinza, ravinas riscando chapadas, barrancos avermelhados e ásperos, cascalheiras e pedregulhos espalhavam-se por toda a superfície. E a sede! Água, só à saída para o norte do Pico das Esteias na pequena levada que vinha lá de dentro do Dente de Cão e descia ao longo da escadaria do Pico das Pedras. Impossível dar repouso à vista!
       Em toda a volta o panorama fazia doer os olhos e só fechando-os eles tinham algum descanso.
Os cabeços que coroavam a espinha dorsal daquela serra desde o Pico do Areeiro ao Pico Queimado passando pelo Pico Escalvado lembravam ossos descarnados rompendo a crosta e emergindo das entranhas da Terra. Ao longo daquelas escalvadas chapadas, o calor abrasava e a terra exalava um cheiro quente de excrementos caprinos, de musgo seco e pedra sobreaquecida.
       Tais contrastes fizeram de mim um silvicultor. O amor à floresta nasceu à primeira vista e o horror à desertificação jamais desapareceu.”

       (“O problema dos altos-chãos da Madeira: floresta ou pastorícia” – DRAC, 1996)

Saudações ecológicas,
Raimundo Quintal

8 comentários:

Anónimo disse...

É uma vergonha a posição do CDS e do dr. Ricardo Vieira que tomam a posição dos pastores para o regresso do gado à serra com o único objectivo de caça aos votos! No caso do dr. Ricardo Vieira deveria respeitar a posição do seu pai o Eng. Rui Vieira, um grande homem que foi perseguido pelo nosso Bokassa, que se bateu em vida pela retirada do gado da serra, que não servem senão para meia dúzia de madeirenses, pseudo pastores brincarem às patuscadas de fim de semana!

Anónimo disse...

Uns idiotas apoiados pelo CDS para comerem uma vez por ano um ensopado de carneiro, é que defendem semelhante barbaridade.
Há situações em que os partidos têm mesmo de remar para o mesmo lado, no pressuposto que os seus representantes defendem os interesses da população.

Anónimo disse...

Caro Raimundo! E não se esqueça que o gado já é permitido de acordo com o DLR 25/2008. Desde que cumpra com regras. Ou seja, este diploma vinha regulamentar o que já estava regulamentado! O que esta gente queria não era nada mais que a autorização para usar os terrenos dos outros para colocar a meia dúzia de ovelhas e cabras que tem e ir no Verão à serra fazer patuscadas. Como o deputado Gil Canha disse, aliás, tirando o deputado do PSD, foi o único que disse algo de jeito em todo o debate, no dia que eles forem pastores de verdade, que estão constantemente na serra, com cães, a cuidar das ovelhinhas, aí sim tempo pastoreio regrado. Agora, temos apenas associações de patuscadas de gente que não tem o que faça da vida tipo o Manica! E, como Gil Canha disse, todos os partidos da oposição a vender-se por meia dúzia de votos!

Anónimo disse...

Mas este gado vai pastar em que terrenos?
Que eu saiba estes terrenos já são do Governo Regional...

Anónimo disse...

Cuidado com este CDS populista!

Unknown disse...

Mais uma vez, o Prof Raimundo Quintal, com poucas e boas fotos e três pequenos textos de quem sabe do assunto, arruma com os políticos oportunistas do costume! As serras da Madeira não são pastos, nem pastagens, nem propriedade de meia dúzia de egoístas! E aos partidos que vêm com floreados de que haveriam mais e novas regras, um alerta: nunca vi uma cabra ou uma ovelha a ler ou a estudar editais, antes de iniciar o seu voraz manjar!

Anónimo disse...

Os Pastores ???? Quais pastores ??? meia dúzia de gajos que larga ao abandono gado na serra , isso sim.
Aquele anormal que veio dizer que era pastor e que ia mudar o governo , é motorista dos Horários do Funchal , pastor nunca foi , teve foi umas ovelhas e umas cabras jogadas na serra a destruir o que é nosso.

Anónimo disse...

2 dos defensores que se dizem pastores


Um é vendilhão de apartamentos a emigrantes , outro é construtor de apartamentos e ligado ao cds

não me enganem