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sábado, 26 de novembro de 2016

OPINIÃO



POR QUEM OS SINOS DOBRAM


O Homem é um ser belicoso basta pensarmos nos irmãos Caim e Abel para nos apercebermos desta triste realidade. Há momentos em que se pára para pensar no sofrimento que se autoinflige. Foi por isso que, no fim da 1ª Guerra Mundial, vencedores e vencidos, criaram a Sociedades das Nações. Porém, os bons propósitos não levaram a nada e, em 1945, terminada outra guerra, ainda mais devastadora, o arquétipo da PAZ gerou a ONU. 
O título fui buscá-lo ao livro de Ernst Hemingway, onde ele nos fala da Guerra Civil Espanhola, da sua violência e do sofrimento de homens que apenas queriam viver os seus sonhos. Deixo-vos duas citações do pastor e poeta Inglês John Donne …”a morte de um único homem me diminui, porque Eu pertenço à Humanidade. Portanto, nunca procures saber por quem os sinos dobram. Eles dobram por ti”.    "Quando morre um homem, morremos todos, pois somos parte da humanidade". Não foi apenas na literatura que a Guerra Civil espanhola foi abordada. Pablo Picasso, no seu GUERNICA, também imortalizou o sofrimento humano. Leiam-me como equidistante de falangistas e comunistas, pois apenas estou focado nos Seres Humanos, combatentes ou não. Todos temos direito a sonhar. 
Um escaldante ambiente político-social, depois da renúncia de Miguel Primo de Rivera, levou Afonso XIII a abdicar face ao resultado das eleições municipais, em Abril de 1931. A questão religiosa agudizava-se com incêndios de igrejas, e o ambiente social deteriorava-se. Nas eleições de 1933, os anarquistas com “a greve do voto” dão a vitória à direita. Os PDT’s (Pensadores Disto Tudo), à direita, conspiravam para tomar o Poder pela força, à esquerda, procuravam capitalizar em votos o descontentamento, resultante da repressão feita nas Astúrias em Outº de 1934. A 16 Fev. 36, a esquerda conquistava o Poder nas urnas. Em Julho um golpe militar provocava a derrocada do Estado. 
As aviações, alemã e italiana, dão a Franco vantagem decisiva na guerra. Ensaiaram-se as técnicas alemãs de Blitzkrieg, para tomar Badajoz, em Agosto de 1936. Os Republicanos, legitimados pelo voto, pediram ajuda às democracias. Léon Blum – socialista Francês e, à época, 1º Min. de um governo de Frente Popular - responde positivamente, mas em breve, pressionado, recua. Assim sendo, a ajuda militar à Rep. Espanhola só chegou em Novº de 1936, através das Brigadas Internacionais o que, foi fundamental para que Madrid não caísse nas mãos de Franco. O Komintern teve um papel importante na mobilização desta gente. Os Republicanos tentam a internacionalização do conflito, apresentando Espanha como vítima de agressão nazi- fascista. Porém, grassava a pusilanimidade nas relações entre os Estados Europeus e na conferência de Munique a 29/9/38. Na ânsia de evitarem a guerra, Ingleses e Franceses, aceitaram as exigências Alemães sobre a Checoslováquia, esvaziando assim a argumentação Espanhola. Os defensores da Liberdade – a alternativa aos dois totalitarismos que haviam incendiado Espanha - em Munique, renderam-se a Hitler.
Os PDT’s totalitários que se defrontaram em Espanha, obnubilados pelo Poder e intolerantes, apenas admitiam que se fosse Franquista ou Comunista. Em Fevº de 1939 meio milhão de “espanhóis vermelhos” fogem da perseguição franquista que se arrastaria até 1950. Porém, a sorte esteve com as vítimas da intolerância de nazis e comunistas em Espanha. As Brigadas Internacionais, a encarnação de uma luta romântica e idealista, incorporavam – além dos combatentes puros que permitiram à propaganda de Franco rotulá-los a todos de comunistas - companheiros escritores-combatentes (Hemingway, Malraux, Bernanos etc.) que deixaram relatos lancinantes do sofrimento humano, combatentes ou não. Os idealistas apenas combatentes – também os havia do lado de Franco - foram apanhados pela 2ª guerra que, em nome da Liberdade, eliminaria o nazismo. Churchill não hesitou em dizer, em junho de 1941, após a invasão nazi à Rússia, o seguinte: “Se Hitler invadisse o Inferno, eu faria uma referência favorável ao diabo na Câmara dos Comuns.” Nestes idealistas estávamos todos e cada um de nós. A memória que guardamos deles oscila entre o mito construído pela tradição comunista e o esquecimento das trajectórias individuais.
Comecei por citar um poeta Inglês. Termino com o Portuguesíssimo Rómulo de Carvalho:
 Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida,
que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança. 
Aos PDT’s de hoje, pede-se que nos deixem sonhar. Não nos vendam mitos como o dos “mercados” que ninguém explica, mas que nos impõem com forte propaganda e alguma ameaça.  

GAUDÊNCIO FIGUEIRA

3 comentários:

Fernando Vouga disse...

"Aos PDT’s de hoje, pede-se que nos deixem sonhar"
Como assim? Eles nem sequer nos deixam pensar. De resto, todo o sistema educativo está voltado para esse lado. Fazer pensadores pode colocar o poder em perigo.

Jorge Figueira disse...

O drama é precisamente esse. Eles, tal qual Hitler e Estaline, com as suas potentes máquinas de propaganda vendem-nos mitos pelos quais morremos na defesa dos interesses deles - os poderosos.
Pensar é preciso para fugirmos daqueles que apenas querem MANDAR.

Anónimo disse...

Excelente artigo, parabéns dr. Gaudencio, do velho amigo.