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sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Opinião




LORPAS ORÇAMENTAIS

GAUDÊNCIO FIGUEIRA

Nos tempos do Estado Novo, pouco dado a gastos, Portugal combateu “comunistas” em Angola, Moçambique e Guiné, durante treze anos. Testemunhei pessoalmente a “forretice” quando após uma situação operacional complicada, em 1968, gastei mais munições do que era suposto gastar. Um helicóptero reabasteceu-nos, mas o remoque - inconsequente é verdade, pois, perceberam o aperto dos fedelhos de 20 anos - também veio. Só com “forretice” desta se conseguiria aquele “verdadeiro milagre”, tão empolado na propaganda, do Portugal pluricontinental e multirracial do Minho a Timor. Seis anos depois, tudo ruiu. O desfecho só causaria espanto a quem nunca por lá andara e vivia na, e da, propaganda anticomunista primária. A esses, como se verá, admiradores confessos da teoria da conspiração, nunca lhes passou pela cabeça saber as circunstâncias da morte dos deputados “comunistas encriptados” – pertenciam à ala liberal do regime - em circunstâncias estranhas a 25/7/1970 na Guiné. 

Em Abril de 1974 a Nação rejubila com o fim da guerra. A intolerância instala-se no País. Superando dificuldades extremas, colocadas pelas várias intolerâncias em confronto, as FA’s, cumpriram, religiosamente, as promessas feitas, garantindo as condições para eleição da Assembleia Constituinte. A Madeira, viu corporizado na lei o reconhecimento à Autonomia. O erro, exclusivamente madeirense, deixem os “cubanos” fora disso, esteve em esquecermos que só há Autonomia se mandarmos no dinheiro. 
Na Madeira, orçamento, no velho conceito de controlo das despesas, com que eu fora confrontado em 1968, foi coisa que caiu em desuso. A última vez que alguém teve a ousadia de questionar um eleito pela despesa pública excessiva que autorizara no concelho, foi o então Min das Finanças Aníbal Cavaco Silva, quando, em S. Vicente, alvitrou a prisão do Pres. da Câmara. Vá lá saber-se porquê, já 1º Min., esquecida aquela afirmação, o mesmo Cavaco Silva, veio inaugurar o BANIF surgido, qual Fénix, das cinzas da Caixa Económica. Responsabilidades do desastre da CEF, custos da criação do Banif e, agora, a sua falência são coisas que a propaganda do poder esquece, como esqueceu no passado o acidente dos deputados na Guiné. Tudo isto tem a mão de uma “máfia no bom sentido” pois a propaganda do poder apenas fala daquilo que lhe interessa ludibriando o Zé Pagode que pagou, vai continuar a pagar, tudo isto. 
Desenganem-se aqueles que pensam que os orçamentos regionais durante 38 anos tiveram alguma aderência à realidade, no que ao controlo da despesa respeita. Nunca foram além de um mero amontoado de números para alimentar discussões esotéricas na ALM, nos jornais e TV. A propaganda, na sequência do anticomunismo primário dos anos 60 do Portugal do Minho a Timor, criou mitos que nos vão sair caros. O primeiro foi o inimigo externo – “os cubanos” – logo seguido de afirmações loucas, estilo Trump, de que a Madeira é uma prostituta fina que Lisboa tem de sustentar. O tempo passou, o proxeneta já não vive dos dotes da jovem por mais cremes antirrugas que ela aplique. 
Com este histórico somos chegados aos orçamentos de 2017 nas versões nacional e regional. Vou primeiro ao orçamento regional. Nele encontramos, na linha de todos os anteriores, a verba de € 6 081 173,00 para várias Festas a que devemos juntar € 3 965 136,13 para o futebol profissional. Foi assim desde 1978, nunca faltou dinheiro para as actividades lúdicas. 
Os orçamentos são, muitas vezes, da responsabilidade de lorpas que imaginam que a propaganda esconde a incompetência. Trágico é que, ao baterem no fundo, levam muita gente atrás. Esse dia chegaria, era questão de tempo. A prova está na retórica à volta da construção do novo hospital onde, por um lado, o governo em funções quer que Lisboa financie na totalidade o hospital e, por outro, o Dr. Alberto joão, especialista em propaganda desde jovem, e ainda inconformado com a sua substituição na liderança do partido, insurge-se contra o OE para 2017 e ao modo com o poder regional reagiu à fronda. 
Vá lá, renovados e não renovados, juntem-se todos, pode ser, novamente, no Trapiche. Deixem-se de inconstitucionalidades e outras barbaridades e reconheçam que, quase todos por acção, alguns, poucos, por omissão, enquanto “compagnons de route” da retórica propagandística do Dr. Alberto João, roubaram o futuro aos madeirenses. Entendam-se e expliquem-se. Aos madeirenses é motivo de preocupação enquadrar o pensamento de alguém que aos 20 anos esqueceu as mortes dos deputados da ala liberal e apresenta, aos 70, discursos próximos de Mr Trump. 

7 comentários:

Fernando Vouga disse...

Ao longo da História muitas das lideranças políticas têm sido encabeçadas por narcisistas irresponsáveis. O problema deles não é a governação mas a satisfação do seu ego. Depois, o desastre é inevitável.
Nem merece a pena dar exemplos de tantos e tão conhecidos que são.

Anónimo disse...

O problema Dr. Gaudêncio é que a viloada não lê o seu artigo de opinião, e mesmo que lesse, era como um boi a olhar para um palácio! Qualquer maneira parabéns pelo seu artigo!

Anónimo disse...

Caro amigo. Mas até os bois, se cansam de tamanho ressabiamento. Eu um boi!

Jorge Figueira disse...

Pois é Fernando em milhões de anos que os Humanos levam sobre a Terra aparecem, de vez quando, uns narcisistas que causam muitos dissabores aos seus semelhantes.
Lembrei-me agora de um. O "Benfeitor" - Trujillo - de que vou contar um episódio a comprovar a sua posição. O narcisismo da "peça" era tanto que obtida a alta, ao abandonarem o Hospital, os "patas rapadas" do regime assinavam um documento que dizia isto: agradeço a Deus dar-me saúde e a Trujillo hospital.
Outros Benfeitores fingem, enquanto podem, dar hospitais mas acabam por nem isso garantirem. O grupo de humanoides que podemos caracterizar como aqueles a quem apontamos a lua e eles olham para o dedo aplaudem estas formas de narcisismo.
Em Português da Madeira: é aquilo que a gente se tem-se

Anónimo disse...

Claro ele tinha que falar no AJJ.
Oh Senhor liberte-se e não se esqueça que pertenceu ao governo dele e foi ao beija mão

Anónimo disse...

Olha, acobardado como eu, fizeste bem lembrar que o dr. Gaudêncio esteve no governo. Mas também devias lembrar-te que saiu a tempo de não andar na "mamadeira" que instalaram e há muito tempo vem escrevendo contra a bandalheira que montaram para mamarem à vontade.
Lê isto que eu fui buscar ao FB dele e fecha essa matraca tonta.

A FÉ UNE-OS!
D. N. 14/12/1999
Os entes públicos devem explicar muito bem o modo como se relacionam com os privados. Recorrem a concursos públicos para todos sabermos como se aplicam os impostos, por um lado, bem como da isenção de escolha dos fornecedores de serviços, por outro.
O Dec. Reg. nº 21-A/99/M criou, uma empresa de capital público, a Vialitoral. O objecto da sociedade é a manutenção da nova rede viária entre Ribª Brava e Machico. O 1º aumento do capital é subscrito por privados, ficando a RAM com 20% do capital. O GR baseado em princípios gerais, definidos no art.º 4, seleccionará os subscritores do capital. O GR, “pela-se” (em madeirense significa grande apetência) por se misturar com tudo e todos. Foi assim com o futebol. Tentou o mesmo com a ACIF. Capitais públicos e privados misturam-se na Vialitoral. A lei deixa à empresa a contagem das viaturas que irão circular. Não expõe critérios de remuneração dos trabalhos nem de avaliação da sua qualidade. Elementos essenciais para fazer contas!
Embora surjam nomes de empresas, dispostas a corporizarem esta operação, tudo está sob a forma de legislação que aguarda importantes definições. É nesta fase que, em Novº, surgiu uma proposta de alteração do Orçamento da RAM, onde se prevê que a Vialitoral entregará ao GR 23 milhões de contos, pela transferência dos lanços construídos, (a totalidade da obra serão 50) a 31 de Dezº de 1999. Os privados, a escolher pelo GR, acreditam que irão receber as receitas de manutenção, nos próximos 25 anos. O GR, que ainda não escolheu os felizardos, acredita que eles lhe pagarão 23 milhões até 31 de Janº próximo. Isto é fé! Pode, também, ser um negócio de matriz familiar entre primos e primas.
Não podendo endividar-se, outros endividam-se pelo GR. Os privados aceitam, porque garantem trabalho por 25 anos. Os impostos, apenas são devidos daqui a anos, o GR antecipa-os como receitas de 1999. Tudo isto funciona se não for mexido o bolso do Zé. Vão mexer-lhe e não se sabe como, quando e quanto! Preparem-se os contribuintes para pagar mais qualquer coisinha, nem que seja no ”selinho do pó-pó”. Resolva o Gov. comprar o avião (DN 5/12) e aí será pior!
Estas manipulações orçamentais não são exclusivas da RAM. Há entidades com competência neste tema. O Tribunal de Contas, a par das minudências, deve preocupar-se com questões da simbiose público-privadas da Vialitoral. Excluindo o Vale do Tejo e o Grande Porto (têm rendimentos superiores à média nacional), imagine-se que cada aglomerado de 270 mil almas se endividava (nestes 24 anos) como a RAM. O País já teria ultrapassado o caos financeiro atribuído à 1ª Rep. Chegou a hora de surgir um veto político a orçamentos destes, que suportam a inimputabilidade (coisa de crianças e dementes) política dos seus responsáveis.
Não é que há anos - no mais isento órgão de informação desta terra, o JM - eu fui insultado por dizer que se preparassem porque iriam pagar a brincadeira?
Não sou, não fui, bruxo. Garanto que também não fui, nem sou, profeta da desgraça.
Contento-me em ser um pessimista que não embarca nas patranhas que me vendem.

Anónimo disse...

Caro Dr. Gaudêncio,

Como sabe a ignorância é o maior inimigo das sociedades.
A educação e cultura são os maiores inimigos dos governos. Quanto mais burro e ignorante for a populaça, melhor para o poder.
Já Salazar seguia está máxima, e por cá o nosso jaozinho das festas também a seguiu.
Impressionante é que o povo, a troco de pouca coisa (um empreguinho, uma espetada com vinho seco, etc) prefere mesmo ser burro e ignorante.
E, as nossas elites são tão bregas que estão ao nível da dita populaça. São cultos de aparecer e de se fazer ouvir. Espremidos, valem pouco mais de que um caracol.
Eu sou um snob, aceito o adjetivo. Mas estou farto de burros.