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quinta-feira, 21 de setembro de 2017


Moral de senhores e moral de escravos


                Esta publicação mostrará a opinião de Nietzche sobre a moral de senhores e moral de escravos[i].
                Basicamente, a moral de senhores é afirmação de si próprio, enquanto a moral de escravos é a negação de si-próprio.
                Cada qual escolhe o veneno que toma, e não se engane estimado leitor: neste caso, é mesmo veneno[ii]!
Depois da leitura deste documento o caro leitor poderá fazer uma escolha mais informada sobre o seu sistema de valores.


“Há moral de senhores e moral de escravos: acrescento desde logo que, em todas as civilizações superiores e mais mistas, entram também em cena ensaios de mediação entre ambas as morais, e ainda mais frequentemente a mescla de ambas e recíproco mal-entendido, e até mesmo, às vezes, seu duro lado-a-lado -até no mesmo homem, no interior, de uma única alma. As diferenciações morais de valor nasceram, seja sob uma espécie dominante, que se sentia bem ao tomar consciência de sua diferença em relação à dominada - ou entre os dominados, os escravos e dependentes de todo grau. No primeiro caso, quando são os dominantes que determinam o conceito ''bom", são os estados de alma elevados, orgulhosos, que são sentidos como o distintivo e determinante da hierarquia. O homem nobre aparta de si os seres em que o contrário de tais estados orgulhosos e elevados chega à expressão: ele os despreza. Note-se desde já que nessa primeira espécie de moral a oposição "bom" e "ruim" significa o mesmo que "nobre" e "desprezível": - a oposição "bom" e "mau" é de outra origem. Desprezado é o covarde, o medroso, o mesquinho, o que pensa na estreita utilidade; assim como o desconfiado, com seu olhar sem liberdade, o que se rebaixa, a espécie canina de homem, que se deixa maltratar, o adulador que mendiga, antes de tudo o mentiroso: -é uma crença fundamental de todos os aristocratas que o povo comum é mentiroso. "Nós, verídicos" - assim se denominavam os nobres na Grécia antiga. Está claro, como sobre a palma da mão, que as designações morais de valor, por toda parte, foram aplicadas primeiramente a homens e somente mais tarde, por derivações, a ações (…)
 O homem de espécie nobre se sente como determinante de valor, não tem necessidade de ser declarado bom, julga: "O que é pernicioso para mim é pernicioso em si", sabe-se o único que empresta honra às coisas, é criador de valores. Tudo o que ele conhece em si, ele honra: uma tal moral é glorificação de si. No primeiro plano está o sentimento da plenitude, da potência que quer transbordar, a felicidade da alta tensão, a consciência de uma riqueza que gostaria de dar e prodigalizar: - também o homem nobre ajuda o infeliz, mas não, ou quase não, por compaixão, mas mais por um ímpeto gerado pelo excedente de potência. O homem nobre honra em si o poderoso, e também aquele que tem potência sobre si mesmo, que sabe falar e calar, que tem prazer em exercer rigor e dureza contra si e veneração diante de todo rigor e dureza. "Foi um coração duro que Wotan me pôs no peito", diz uma antiga saga escandinava: esse é o poema que brota da alma de um orgulhoso víking. Um homem de tal espécie se orgulha, justamente, de não ser feito para a compaixão: por isso o herói da saga acrescenta a advertência: "Quem em jovem já não tem um coração duro, seu coração nunca se tornará duro". Nobres e bravos, que assim pensam, estão à máxima distância daquela moral que vê, precisamente na compaixão ou no agir por outros ou no désintéressement, o signo da moral; a crença em si mesmo, o orgulho de si mesmo, uma hostilidade fundamental, e ironia, contra o "altruísmo", por exemplo, faz parte da moral nobre de modo tão determinado quanto uma leve depreciação e cautela diante dos sentimentos simpáticos e do "coração caloroso". - São os poderosos que entendem de honrar, essa é a sua arte, seu reino de invenção. A profunda veneração pela idade e pela tradição - o direito inteiro está contido nessa dupla veneração -, a crença e o preconceito em favor dos antepassados e em desfavor dos vindouros são típicos da moral dos poderosos; e se, inversamente, os homens das "ideias modernas" acreditam quase instintivamente no "processo" e no "futuro" e carecem cada vez mais do respeito pela idade, com isso já se denuncia suficientemente a origem não-nobre dessas "ideias". Mais que tudo, porém, uma moral de dominantes é alheia e penosa ao gosto presente, no rigor de seu princípio fundamental, de que somente para com seu igual se tem deveres; de que, para como os seres de categoria inferior, para com tudo o que é alheio, se pode agir ao bel-prazer ou "como o coração quiser" e, em todo caso, "para além de bem e mal"-: aqui pode entrar compaixão, e coisas semelhantes. A aptidão e o dever de longa gratidão e longa vingança - ambas somente entre semelhantes -, a finura na represália, o refinamento conceitual na amizade, uma certa necessidade de ter inimigos (como para que servirem de valas de despejo para as emoções de inveja, agressividade, petulância no fundo, para poder ser amigos bem): tudo isso são sinais típicos da moral nobre que, como foi indicado, não é a moral das "ideias modernas" e, por isso, é hoje difícil de assimilar, e também difícil de desenterrar e descobrir. - É diferente com o segundo tipo de moral, a moral de escravos. Suposto que os violentados, oprimidos, sofredores, não-livres, incertos-de-si-mesmos e cansados moralizem: o que haverá de homogêneo em suas estimativas morais de valor? É verossímil que uma suspeita pessimista contra a inteira situação do homem chegue à expressão, e talvez uma condenação do homem, juntamente com sua situação. O olhar do escravo é desfavorável às· virtudes do poderoso: ele tem skepsis e desconfiança; tem refinamento de desconfiança contra todo o "bom" que é honrado ali -gostaria de persuadir-se de que, ali, a própria felicidade não é genuína. Inversamente, são postas em relevo e banhadas de luz as propriedades que servem para facilitar a existência dos que sofrem: aqui fica em lugar de honra a compaixão, a complacente mão pronta para ajudar, o coração caloroso, a paciência, a diligência, a humildade, a amabilidade -: pois estas são aqui as propriedades mais úteis e quase os únicos meios para tolerar a pressão da existência. A moral de escravos é essencialmente moral utilitária. Aqui está o foco para o nascimento daquela célebre oposição "bom" e "mau" - no mal é sentida a potência e periculosidade, algo de terrível, refinado e forte, que não deixa lugar para o desprezo. Segundo a moral de escravos, portanto, o "mau" desperta medo; segundo a moral de senhores, é precisamente o "bom" que desperta medo e quer despertá-lo, enquanto o homem "ruim" é sentido como o desprezível. A oposição chega a seu auge quando, de acordo com a consequência da moral de escravos, também aos "bons" dessa moral acaba por prender-se um bafejo de menosprezo - pode ser leve e benevolente -, porque o bom, dentro da maneira de pensar dos escravos, tem de ser, em todo caso, o homem não-perigoso: ele é bondoso, fácil de enganar, um pouquinho estúpido talvez, é um bonhomme. Por toda parte onde a moral de escravos chega à preponderância, a linguagem mostra uma inclinação a aproximar as palavras "bom" e "estúpido". -Uma última diferença fundamental: o anseio por liberdade, o instinto para a felicidade e os refinamentos do sentimento de liberdade fazem parte da moral e moralidade de escravos, tão necessariamente quanto a arte e delírio na veneração, no abandono, é o sintoma regular de um modo aristocrático de pensar e valorar.”

Um exemplo de Moral de Escravos

                Lao Tse em Tao Te Ching - O Livro do Caminho e da Virtude - declara:
“CAPÍTULO 3
Não valorizando os tesouros, mantém-se o povo alheio à disputa
Não enobrecendo a matéria de difícil aquisição, mantém-se o povo alheio à cobiça
Não admirando o que é desejável, mantém-se o coração alheio à desordem
O Homem Sagrado governa
Esvazia seu coração
Enche seu ventre
Enfraquece suas vontades
Robustece seus ossos
Mantém permanentemente o povo sem conhecimentos e desejos
Faz com que os de conhecimento não se encorajem e não ajam[iii]
Sendo assim
Nada fica sem governo (…)        

CAPÍTULO 8
A bondade sublime é como a água
 A água, na sua bondade, beneficia os dez mil seres sem preferência
Permanece nos lugares desprezados pelos outros
Por isso assemelha-se ao Caminho
Viva com bondade na terra
Pense com bondade, como um lago
Conviva com bondade, como irmãos
Fale com a bondade de quem tem palavra
Governe com a bondade de quem tem ordem
Realize com a bondade de quem é capaz
Aja com bondade todo o tempo
Não dispute, assim não haverá rivalidade”


               
Eu, O Santo

P.S.-  Não apresentei um exemplo de moral de senhores pois penso que todos o veem: direitos para os “dominantes”, e os dominados só servem para os servir.
                 



[i] expressa no Capitulo IX- O que é nobre? do livro PARA ALÉM DE BEM E MAL - PRELÚDIO DE UMA FILOSOFIA DO PORVIR
[ii] É veneno pois os senhores estão condenados à luta, à tradição e não olharem nada para além de seus umbigos; e os escravos estão condenados a não tentar alterar todas as coisas que a vida lhes traga quer seja bom ou mau.
[iii] Se vivermos num mundo em que senhores tentam escravizar, é óbvio que esta simples publicação será criticada negativamente e eu serei injuriado.

5 comentários:

Anónimo disse...

E o Santo tem moral de senhor ou moral de escravo ? E o Miguel Silva qual delas tem ?

Anónimo disse...

"É veneno pois os senhores estão condenados à luta, à tradição e não olharem nada para além de seus umbigos; e os escravos estão condenados a não tentar alterar todas as coisas que a vida lhes traga quer seja bom ou mau.
Se vivermos num mundo em que senhores tentam escravizar, é óbvio que esta simples publicação será criticada negativamente e eu serei injuriado."
Pois assim acontece no Reinado dos Senhores Albuquerque/Abreu/Leal nós povo somos tratado como escravos. Uma candidata do psd na Ribeira Brava não disfarça isso na campanha tendo nos seus cartazes a expressão "Meu Povo".
Leal ao Funchal, trata este mesmo povo do Funchal com arrogância, não quer misturas.
Assim são os candidatos e governantes deste PSD, uns senhores que escravizam o povo. É tempo de dizer Basta!

Anónimo disse...

Ámen.
Já lá disse o Senhor: abençoados os pobres de espírito, porque deles será o reino dos céus !

Anónimo disse...

ridiculo, como se todos fossemos ignorantes, este individuo não consegui os tachos que queria, tanto na CMF, como na secretaria regional do ambiente e agora vem pregar para todos os lados. enxergue-se.

Anónimo disse...

Este O Santo trabalha? Será que tem alguma coisa que faça? A única vantagem que tive ao acabar de ler este texto é que estou dispensado dos serviços litúrgicos do fim de semana na minha paróquia, irra. Haja pachorra