Pressa de Cafôfo pode sair pela culatra

Socialistas indignados: 

Ainda nem tomaram posse 

e já trocam as câmaras 

pelo assalto ao governo

Em política é errado deixar fugir o comboio, mas também há certas atitudes que caem mal nos eleitores. Neste preciso momento há desencanto em alguns socialistas reconhecidamente sensatos que não escondem a sua revolta pelo assalto ao poder interno e ao governo regional apregoado por autarcas vitoriosos a 1 de Outubro. "Ainda nem tomaram posse e já não falam das câmaras, para se atirarem ao poder no partido e no governo", diz-nos um antigo e prestigiado dirigente do PS, não aceitando comentar mais nada para além deste desabafo magoado.

Outros socialistas perfilham a mesma desilusão com "a falta de envergadura de uns quantos que beneficiaram do cansaço dos votantes laranja para chegarem lá acima". Que os apressados "não se esqueçam que se não concorressem a coberto do Partido Socialista nunca chegariam aonde chegaram", acabámos de ouvir, numa referência sem dúvida dirigida a Paulo Cafôfo e a Emanuel Câmara.

O congresso do PS está perto e os interessados precisam de se movimentar. Mas sem necessidade de provocar desestabilização num processo que devia proporcionar um clima ameno para os militantes fazerem serenamente as suas escolhas.

Até há pouco, aconteceu assim. A preparação do esperado avanço de Paulo Cafôfo em direcção a 2019 corria com discrição. Victor Freitas, que 'inventou' o Mayor para o Funchal em 2013, colocou-se em campo a medir o pulso aos votantes internos a ver se devia ser ele, Victor, a candidatar-se à liderança do partido e nesse papel indicar depois Cafôfo para candidato às Angústias. Não deu muito certo. Assim como a diligência de Cafôfo virada para leste, prometendo a Ricardo Franco a posição de presidente da Amram em troca de apoio no projecto de governo. O projecto Cafôfo-DN, como dizem alguns socialistas nos bastidores. Ricardo Franco não terá estado pelos ajustes. 

Era preciso mostrar a Lisboa e a António Costa, por intermédio dos 'comissários cubanos' destacados no Funchal, que a parte da Madeira estava a correr bem. Então, toca de acelerar o processo e considerar chegada a hora de cobrar a Emanuel Câmara "certas amizades" proporcionadas por Cafôfo nestes 4 anos - como dizem os autores desta versão dos acontecimentos. Assim, o reeleito presidente do Porto Moniz foi apontado como solução para a fórmula engendrada. Aquela que aqui aventámos há dois dias: Emanuel Câmara candidato a presidente do PS, Victor Freitas para secretário-geral e Bernardo Trindade para presidente da comissão regional. Todos orientados para indicar Cafôfo às Angústias na hora certa. Há quem nos diga, entretanto, que foi Emanuel Câmara quem se propôs a Cafôfo para participar no negócio das Angústias.

De um modo ou de outro, com este nome ou com aquele, a estratégia era conhecida, ou pelo menos previsível. O importante estava na candidatura do edil funchalense, o resto logo se via.

Acontece que Emanuel Câmara apareceu a confirmar em público a sua candidatura, que anunciámos recentemente. Confessando claramente o nome a candidatar ao governo em 2019. Só que o timing desagradou solenemente a vários socialistas ponderados. Assim como a "equipa" proposta. Uma pressa que saiu pela culatra tanto a Emanuel como ao próprio Cafôfo. 

Carlos Pereira não quis cortar com Cafôfo nas oportunidades que teve para o fazer, o que lhe permitiria, apesar da provável derrota do PS nas urnas, continuar com o partido na mão, podendo então candidatar-se em 2019. Mas, mesmo assim, a teoria de que a linha Cafôfo-DN-Emanuel-Victor conta com várias concelhias para uma vitória interna tem muito que se lhe diga. As eleições são directas. As estruturas concelhias, mesmo com alguma influência sobre os seus militantes, não têm toda a influência. O Funchal é evidentemente Cafôfo. Mas os eleitores socialistas do Funchal podem não obedecer em maioria às indicações do presidente local Bruno Ferreira. As outras duas concelhias que contam com o número de votos decisivo no resultado interno, Machico e Câmara de Lobos, podem não ser favas contadas para Cafôfo. Nem ao nível de dirigentes locais nem junto dos militantes que vão votar para escolher o líder.

Os favoritos podem estar a ser traídos pelos nervos de quem "nunca se viu e se vê" - como dizem os seus críticos. Porque o congresso e as eleições internas têm prazos a respeitar. É preciso levar em conta que os militantes têm de apresentar as quotas pagas até um mês antes, e é preciso conceder esse prazo para cumprimento do dever. A COC (comissão organizadora do congresso) também precisa de preparar cadernos eleitorais e arredondar regulamentos. Não era preciso ferver em água fria.O que parecia um passeio pode transformar-se numa escalada prenhe de obstáculos.

Serenidade, pois. O apoio de Costa à linha municipal é decisivo. Ele sabe como se faz. No seu caso, impediu que Seguro, com mandato a correr na liderança nacional do PS, tivesse oportunidade de disputar umas eleições para o governo de Portugal. Hoje em dia, é primeiro-ministro tendo perdido as eleições. E até está a sair-se bem. Portanto, vão com calma. Por que raio vão falar do assalto ao governo sem sequer terem tomado posse das câmaras a que durante alguns meses andaram a jurar amor eterno... pelas Pessoas?!