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sexta-feira, 5 de janeiro de 2018


A "Tragédia da Árvore do Monte"
(Quando a "raposa guarda o galinheiro")


Donato Macedo



Quis a ironia do destino, que um dia após um artigo meloso do Sr. Presidente da Câmara do Funchal ao DIÁRIO, a anunciar-se a si próprio como o Messias-Salvador, que em 2019 vai resgatar madeirenses e porto-santenses, viesse o Expresso On-line veicular a informação da Procuradoria-Geral Distrital de Lisboa de que o edil funchalense e demais pessoas teriam sido constituídos arguidos decorrente do funesto caso que reclamou treze vidas em Agosto na Festa de Nossa Senhora do Monte.
Ser arguido não é ser culpado nem condenado, nem é garantido que se produza uma acusação, registe-se. Todavia quem faz da sua práxis política uma novela mediática profissional, como é o caso em apreço, com largas ambições governativas a outros patamares, esta condição não é nada simpática, nem induz a sorrisos cromados publicitados na besuntadela noticiosa. Além do mais recorde-se, que o edil pese embora após esta notícia, ter emitido um lacónico comunicado, afirmando estar de «consciência tranquila» e aparentemente solícito a prestar esclarecimentos, tem repetidamente se escusado a prestar os ditos esclarecimentos em sede da Assembleia Legislativa Regional da Madeira a que foi solicitado fazer, numa atitude que denota algum desconforto e desrespeito com todos nós lá representados. Para quem anseia e saliva por governar a Região e quem sabe o Mundo e arredores, a evidente distinção entre o que se diz, e o que (não) se faz, fala por si. Para esse ofertório de desconsideração já tivemos um inquilino na Quinta Vigia, que se escusava a lá ir.
Enquanto no território continental os incêndios assassinos de Junho e Outubro forçaram pelo Presidente da República uma deriva do Governo de António Costa, que se mostrara insensível e arrogante com a tragédia que ceifou mais de cem vidas, no Funchal, o edil Paulo Cafôfo manteve e mantém o mesmo registo de "fuga" nesta matéria local, que abriu jornais e noticiários um pouco por todo o mundo com a morte de treze pessoas num dos maiores ambientes festivos da Madeira. As primeiras declarações do sacudir do capote foram do género: o terreno é de fulano, e a árvore tombada é um sicrano aparentemente saudável.
Vou repetir o que já escrevi: ser arguido, não é ser condenado ou culpado. E mesmo que seja produzida acusação e eventual condenação, pode ser objecto de recurso.
Esta investigação que agora deriva em três arguidos começou inquinada, por culpa doutra "ramagem" do Estado que não esteve (também) à altura das suas responsabilidades e especiais incumbências. Refiro-me ao Ministério Público e à forma ANEDÓTICA com que iniciou TARDIAMENTE as imperativas diligências oficiais e regulamentares que se esperam dum denominado "Estado de Direito" ocidental, mas que infelizmente aqui neste caso específico, foi mais condizente com um daqueles "Estados-Faz-De-Conta" da África Equatorial onde as raposas guardam os galinheiros arrombados, parodiando a Justiça. E recordo o seguinte:
  • como foi possível à luz da justiça, a própria Câmara tomar a iniciativa de desencadear uma alegada "peritagem técnica" por sua conta, quando estávamos perante um potencial local de crime, (cuja retirada das vítimas estava terminada após uma hora do alerta dado à Protecção Civil) - [fonte DN], sendo que a própria autarquia é uma "parte interessada", sem que o Ministério Público (MP) tivesse imediatamente isolado o local, como dita qualquer compêndio de investigação com este lastro de morte?
  • como foi possível que naquele concorrido arraial não estivesse qualquer ambulância de prontidão e apenas 25 polícias em permanência distribuídos entre o Largo das Babosas e o Largo da Fonte [fonte DN]?
(imagem © lookmind.com)

Não. Não vou questionar a questão da troca de ofícios entre a Junta de Freguesia e a Câmara, nem os alertas de populares e residentes.
Não vou questionar se foi o Carvalho, o Plátano ou um improvável "E.T.", a primeira pedra de dominó a fazer da morte a soberana rainha naquele chão de fé peregrina.
Não vou questionar se os decibéis debitados da festa, trepidaram os eventuais pés de barro ou a eventual debilidade fitossanitária. Sim porque apesar de tudo, das (alegadas) fugas, das (alegadas) hesitações e das (alegadas) irresponsabilidades, há a precária fé numa justiça que não se portou à altura, pelas graves falhas iniciais, como se fosse admissível condescender em plena “silly-season” a inoperância dum MP (ainda com sangue mal coagulado no chão), permitir que a raposa guarde o galinheiro violado durante três morosos dias. Ao menos neste incrível detalhe, o Estado devia ser arguido, de tão cúmplice como o... "maldito azar".
Não vou fazer comparações entre a postura dalguns políticos entre a ocorrência de 2010 em Porto Santo e este recente evento de Agosto de 2017. Essa analogia provoca-me vómito. Até porque não sou "politicamente correcto" e abjecto essas posturas castas e vestais, consoante o lado da trincheira onde nos colocamos. Sou apenas um cidadão comum, livre, cujo comprometimento é exclusivamente com a minha consciência e que por lá no mesmo local também andei, dois dias antes da tragédia. De resto, a matilha passante pode arfar, ladrar, rosnar, pois tal como eu - enquanto aqui andar - tem todo o direito e legitimidade à vida e às ganas da indignação. E é essa faculdade que aqueles que pereceram sob as (alegadas) ramagens da incúria, já não têm e não se podem manifestar!

11 comentários:

Anónimo disse...

Não vai dar nada.
A árvore caiu de um terreno adjacente e fora da área municipal.
Se o terreno é da Igreja, não percebo porque o Bispo não é arguido.

Anónimo disse...

A este, enquanto técnico superior da CMF, deviam atribuir a responsabilidade por zelar pela sanidade das árvores do município. Assim talvez fosse menos perentório na sua veia opinativa. Como nada faz nada lhe pode ser apontado senão a porta da rua mas como os funcionários públicos são sagrados nem esse risco corre...

Anónimo disse...

Desde o século XIX que a Câmara toma conta dos jardins e o Bispo é que deve ser arguido! Sinceramente seu cafofiano, vão para a berdam...

Anónimo disse...

E o presidente da CMF esconde-se detrás dum comunicado (quiçá elaborado pela LPM). Muito bem, tudo PELAS PESSOAS.

Anónimo disse...

Meus caros falta constituir arguido o jardineiro!

Anónimo disse...

Meus caros falta constituir arguido o jardineiro!

Anónimo disse...

Está a querer empurrar o lixo para a porta do vizinho?
Não quer também culpar o Trump, a trilateral e a Maçonaria?

Anónimo disse...

O Bispo deve ser arguido.
Será que niguem toca na igreja.
Somos laicos ou lacaios?

Anónimo disse...

E porque não?
Era quem mais próximida tinha com a árvore.

Anónimo disse...

Se o terreno é da Igreja...logo...

Anónimo disse...

Mas qual igreja qual quê?!
Aquilo sempre foi mantido pela CMF. Não vale a pena empurrarem para mais ninguém!
Assumam as responsabilidades de uma vez por todas.
É uma vergonha!